A redução das emissões, as questões financeiras e a adaptação às alterações climáticas são o foco da conferência climática em Belém.

Há dez anos, os governos adotaram o Acordo de Paris sobre o Clima. O acordo representou um marco na diplomacia multilateral. A transição energética está em curso desde então. Mas a resistência às metas climáticas também está crescendo.

A partir de segunda-feira, o mundo inteiro estará sentado à mesma mesa novamente. Independentemente de os governos serem a favor ou contra medidas mais rigorosas de proteção climática, todos irão ao Brasil.
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Os EUA também. Embora os americanos estejam se retirando do Acordo de Paris, parecem não conseguir abandonar as negociações climáticas. A China chegou a anunciar uma nova meta climática para 2035 com antecedência: o maior poluidor do mundo ainda planeja investir bilhões em tecnologias limpas.
O formato das negociações multilaterais sobre o clima está sob pressão, mas continua relevante. O que está na agenda deste ano? O NZZ analisou três aspectos.
Novas metas climáticas estão sendo exigidas pela UE e outros poluidores.A China planeja reduzir suas emissões em até 10% até 2035: isso é insuficiente para cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris. No entanto, essa medida marca a primeira vez que o maior poluidor do mundo se compromete formalmente a reduzir suas emissões.
A UE, o quarto maior emissor mundial e autoproclamada campeã mundial da proteção climática, ainda não anunciou uma nova meta de emissões. Isso apesar de, segundo as regras do Acordo de Paris, todos os governos terem sido obrigados este ano a apresentar novas metas climáticas para 2035.
Os europeus não foram os únicos a perder o prazo. Muitos países importantes ainda precisam chegar a um acordo sobre novos planos. Entre eles está a Índia, cujas emissões vêm crescendo há anos e que agora se tornou o terceiro maior emissor do mundo, à frente da UE.
O Secretariado do Clima da ONU, núcleo do regime climático multilateral, publicou recentemente uma análise inicial do estado atual da redução das emissões globais. A análise, contudo, é limitada, pois se baseia em planos que abrangem apenas cerca de 30% das emissões globais.
No entanto, isso demonstra claramente o que já é sabido: as reduções de emissões planejadas são muito pequenas para atingir as metas climáticas. As emissões continuam aumentando. No ano passado, atingiram um novo recorde , impulsionadas pela Índia, Rússia, Indonésia e outras economias emergentes em crescimento.
Os dados mais recentes deixam claro: a meta de 1,5 grau do Acordo de Paris não é mais alcançável por enquanto, e insistir nela retoricamente já não é crível. Pesquisadores vêm dizendo isso há muito tempo, e agora a ONU também começou a incorporar essa ideia em seus discursos.
Mas a análise dos planos climáticos também mostra que a transição energética está em curso em muitos países do mundo. Graças a esses planos, as emissões cairão 10% nos próximos dez anos em comparação com os níveis de 2019. Esse desenvolvimento, segundo a ONU, aponta na direção certa. Os "enormes fluxos de investimento em energia limpa em quase todas as principais economias" são encorajadores. Por exemplo, neste ano, as energias renováveis ultrapassaram o carvão como a maior fonte de eletricidade do mundo.
A análise da ONU também aborda as consequências das mudanças climáticas. O mundo já está pagando um preço alto pelo aquecimento global, ao mesmo tempo que se aproxima de um ponto de virada econômico positivo. As negociações em Belém fornecerão mais pistas sobre se e em que condições a transição energética global se acelerará.
A adaptação às mudanças climáticas é o foco.
Maria Alejandra Cardona/Reuters
Para manter a credibilidade, a conferência sobre o clima deve apresentar soluções que permitam aos países se prepararem melhor para inundações, ondas de calor, incêndios florestais e secas. Cada estrada ou escola construída com a visão de um mundo mais quente demonstra concretamente por que políticas climáticas bem elaboradas são relevantes para o dia a dia.
Adaptar-se às mudanças climáticas é absolutamente essencial, escreveu André Aranha Corrêa do Lago em outubro. É tão importante quanto a tarefa de reduzir as emissões. O diplomata brasileiro preside a conferência deste ano.
Essa mudança – ou melhor, expansão – das prioridades das políticas climáticas é importante. E levou muito tempo para que ela ganhasse força. Há anos, os países em desenvolvimento vêm clamando por um foco maior na tarefa urgente de preparar suas populações para os perigos das mudanças climáticas.
As pessoas não se interessam pelo jargão das políticas climáticas, escreveu Corrêa do Lago. "Elas falam de casas alagadas e quebras de safra, do colapso da economia local após as tempestades, de escolas e hospitais destruídos."
Mas ativistas e políticos com consciência ambiental minimizaram a questão durante anos. Temiam que focar nas emissões diminuísse a pressão sobre as reduções necessárias. Isso resultou principalmente em um longo período de negligência para uma questão que é cada vez mais vital para muitos países.
Até agora. Porque para o Brasil, a adaptação está no centro da conferência climática deste ano. Depois que o furacão Melissa devastou o Caribe na semana passada e causou sofrimento generalizado, a questão também será uma prioridade absoluta para muitas outras economias em desenvolvimento e emergentes.
Trilhões para a proteção climáticaNo entanto, os países precisam de recursos financeiros significativos para se prepararem para os riscos das mudanças climáticas. Mas os investimentos em proteção contra inundações ou em infraestrutura resistente ao calor estão muito aquém do que os especialistas consideram necessário.
Segundo a ONU, o financiamento para essas áreas representa menos de um terço do financiamento climático total proveniente de países industrializados. Esse "subinvestimento crônico" expõe os países a riscos e os força a desviar recursos escassos da saúde, educação e infraestrutura para medidas emergenciais e reconstrução, escreveu Corrêa do Lago.
Nas próximas semanas, diplomatas negociarão como aumentar o apoio financeiro dos governos e tornar os investimentos mais atrativos para o setor privado.
O Brasil está trabalhando para elaborar um pacote financeiro para os países em desenvolvimento durante a conferência. Os doadores, disse Corrêa do Lago, são uma mistura de nações industrializadas ricas, organizações filantrópicas e bancos multilaterais de desenvolvimento.
Os detalhes ainda não estão claros, mas o assunto já está na agenda de alguns doadores ricos. Bill Gates, o bilionário fundador da Microsoft, pediu em outubro uma mudança de mentalidade para tornar as políticas climáticas mais eficazes. Os governos deveriam investir mais recursos em adaptação e na melhoria das perspectivas de vida, em vez de se concentrarem apenas em metas de redução de emissões.
Para os países em desenvolvimento, as negociações climáticas são um fórum crucial para discutir os obstáculos financeiros e tecnológicos, implementar a transição energética e desenvolver soluções para combater as mudanças climáticas. Para muitos desses países, a discussão abrange não apenas a política climática, mas também dimensões econômicas.
Eles querem discutir as barreiras no mercado financeiro internacional e os fundos necessários para expandir o sistema energético. Além disso, os países em desenvolvimento vêm reivindicando há anos a troca de conhecimento tecnológico e maior atenção à adaptação aos efeitos nocivos das mudanças climáticas.
Um tsunami destrói não apenas aldeias, mas também o progresso. Muitos países ficam para trás, arcando com os custos – e suas dívidas aumentam.
O apoio financeiro aos países em desenvolvimento é um dos principais pontos de discórdia nas negociações entre governos todos os anos. Na conferência climática em Baku, Azerbaijão, os países industrializados se comprometeram a fornecer US$ 300 bilhões anualmente para financiamento climático até 2035.
Muitos países em desenvolvimento criticaram esse resultado, considerando-o insuficiente. O trabalho continua este ano com o objetivo de aumentar o financiamento anual para ações climáticas para um total de US$ 1,3 trilhão por meio de investidores privados e bancos de desenvolvimento.
Para o Brasil, a questão vai além do dinheiro. Os Estados Unidos estão se retirando do Acordo de Paris e usando seu aparato político para frear as políticas climáticas. Ao mesmo tempo, o entusiasmo ambiental dos últimos anos deu lugar à desilusão.
Em muitos países, a resistência política ao esforço necessário para a transição energética está a aumentar. Por conseguinte, as negociações em Belém, nas próximas semanas, centrar-se-ão também em dar novo impulso à agenda política climática. As conversações devem demonstrar que os governos de todo o mundo continuam empenhados na transição energética e que podem encontrar soluções conjuntas para os perigos das alterações climáticas.
Corrêa do Lago também considera isso sua tarefa. "Precisamos transmitir que há progresso nessa agenda (climática), porque estamos numa fase em que a maioria do público acredita que essa agenda está perdendo terreno", disse ele poucos dias antes do início da conferência.
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