O Ministério Público da Costa Rica acusa o presidente Chávez de financiamento eleitoral ilegal.


O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, enfrenta um novo problema legal nesta segunda-feira, depois que a Procuradoria-Geral da República anunciou a segunda acusação criminal contra ele e seis de seus associados, desta vez por supostos esquemas ilegais de financiamento de campanha que o levaram ao poder em 2022.
De acordo com a denúncia, Chaves, seu Ministro das Relações Exteriores, Arnoldo André, e o vice-presidente Stephan Brunner participaram de estruturas fora do controle do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É o que afirma a denúncia apresentada pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal de Justiça, que tem o poder de decidir se convoca ou não um julgamento e solicita à Assembleia Legislativa o levantamento da imunidade do Presidente Chaves, cujo mandato termina em maio de 2026 e que é inelegível para a reeleição.
O caso também inclui quatro deputados do Partido do Progresso Social-Democrata (PPSD), apoiados por Chávez em sua candidatura presidencial. Entre eles está Pilar Cisneros, líder do bloco governista e principal porta-voz do presidente em questões eleitorais, que descreveu a acusação como uma nova tentativa do procurador-geral Carlo Díaz de prejudicar os interesses do movimento chavista nas eleições de fevereiro de 2026, nas quais o partido governista busca renovar seu poder.
Diante do silêncio da Presidência na segunda-feira, a reação de Cisneros visa manter o confronto do partido no poder com o Judiciário, em linha com as constantes críticas de Chaves a promotores, juízes, magistrados e investigadores judiciais, e com a manifestação que liderou em março com seus seguidores para exigir a renúncia de Carlo Díaz.
Na época, Díaz descreveu a marcha como uma tentativa de interromper sua investigação sobre dezenas de casos nos quais Chaves figura como réu, embora, até o momento, apenas dois tenham sido formalmente acusados. O primeiro ocorreu em abril, relacionado ao suposto uso corrupto de recursos fornecidos pelo Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) durante o primeiro ano do governo. Mais de dois meses se passaram desde então, e os ministros da Suprema Corte ainda não tomaram a decisão de solicitar à Assembleia Legislativa a revogação da imunidade de Chaves, uma possibilidade plausível dada a vasta maioria das facções da oposição.
Desde segunda-feira, duas acusações foram feitas contra o presidente, que mantém um índice de popularidade próximo a 50% da população, segundo pesquisas recentes da Universidade da Costa Rica (UCR), enquanto busca maneiras de prolongar a "revolução pacífica" que afirma ter fomentado ao confrontar poderes institucionais "tomados pelas mesmas elites", como ele tem repetidamente afirmado desde que era candidato à presidência.
Um “esquema de financiamento obscuro”Naquela campanha, Chaves fez parte de duas estruturas paralelas que formavam um esquema de financiamento "obscuro", segundo relatório de 2022 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), utilizado pela Procuradoria-Geral da República para a investigação judicial. Estima-se que aproximadamente US$ 500.000 tenham sido transferidos por esses canais à taxa de câmbio atual, segundo diversas reportagens da imprensa local sobre o caso.
"Há indícios suficientes para sustentar, no nível de probabilidade exigido nesta fase do processo, que os réus são os autores dos crimes previstos", afirmou o Ministério Público, referindo-se a três artigos do Código Eleitoral, que estabelecem pena máxima de seis anos de prisão.
O Código Eleitoral determina que todas as contribuições privadas a partidos políticos, candidatos ou pré-candidaturas devem ser feitas por indivíduos nacionais totalmente identificados e canalizadas exclusivamente por meio dos mecanismos oficiais do partido político, lembrou a Procuradoria-Geral da República.
A deputada Cisneros, conhecida ex-apresentadora e ex-diretora da emissora de televisão Teletica — canal que Chaves agora considera adversário — desacreditou a acusação e a atribuiu ao suposto "desespero" do promotor Díaz para prejudicar o movimento chavista. Ela alegou, como defesa, que não houve envolvimento de dinheiro público nessas transações financeiras e que o fundo fiduciário questionado foi fechado na véspera da nomeação presidencial de Chaves. "Ninguém tem medo nem tem nada a esconder", disse ela em um vídeo distribuído à imprensa. A Presidência, por sua vez, respondeu às perguntas dos repórteres afirmando que o assunto diz respeito à vida pessoal de Chaves e não é um assunto governamental.
EL PAÍS