Lágrimas de crocodilo na primeira discussão

Acompanhei de perto a primeira discussão sobre o Projeto de Lei de Telecomunicações e Radiodifusão que a presidente Claudia Sheinbaum enviou ao Senado em 23 de abril. Quanto ao conteúdo desta iniciativa, já compartilhei algumas reflexões neste espaço nas duas edições anteriores. Felizmente, há indícios de que aspectos que representam risco de censura seriam de fato modificados, mas ainda não se sabe até onde isso irá para garantir a aceitação de modificações em áreas tão importantes como a possibilidade de bloquear plataformas digitais ou exigir que canais de televisão solicitem permissão ao Ministério do Interior para transmitir programas produzidos com financiamento estrangeiro.
Este último, por exemplo, está previsto no Artigo 201 da iniciativa e significaria que os canais vistos em sistemas de TV paga, como CNN, Fox News, Deutsche Welle (DW), BBC, RTVE, Antena 3, RT (Russia Today), teriam que solicitar autorização de uma autoridade política não controlada sobre o que podem incluir em sua programação e o que não podem. Ou seja, eles teriam que se submeter à discrição dos funcionários da Segob, que se tornariam uma espécie de juiz sobre o que os mexicanos podem assistir quando se trata de programas produzidos com dinheiro estrangeiro.
Agora, do lado da concorrência, há vários aspectos a considerar, especialmente aqueles relacionados à distribuição de competências entre a Agência de Transformação Digital e Telecomunicações e a nova Comissão Nacional de Defesa da Concorrência proposta na proposta de reforma da Lei Federal de Concorrência Econômica. Porque se algo deve estar claro, tanto na administração do presidente Sheinbaum quanto no Senado e na Câmara dos Deputados, é que no México ainda não podemos presumir que existam condições para uma concorrência efetiva.
Embora a reforma das telecomunicações de 2013-2014 tenha criado as condições para que os mexicanos pudessem desfrutar de serviços de telecomunicações a preços melhores, o fato de que, em velocidades de banda larga fixa e móvel, não estamos apenas na última posição entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas pior ainda, atrás de vários países latino-americanos, indica que os mexicanos ainda estão pagando um preço oculto por não poderem desfrutar de serviços de banda larga com velocidades comparáveis às já desfrutadas por moradores de outras regiões do continente.
O exposto acima é um sinal inequívoco de que prevalecem condições no México que impedem que o setor se desenvolva de forma mais eficiente. Quando isso acontece, é simplesmente porque há um agente no mercado que atrapalha a atuação dos demais, mantendo assim um controle rígido.
Portanto, é surpreendente o que quase poderíamos considerar lágrimas de crocodilo daqueles que foram ao Senado na última quinta-feira para reclamar aos senadores que a empresa que representam, ou aquela que os paga, está de mãos atadas — de sua perspectiva muito particular do que significa um ambiente competitivo. Eles usaram a primeira conversa para descrever um agente econômico pobre, quase anêmico, que por falta de apoio não consegue competir como gostaria. Nada poderia estar mais longe da verdade do que esse papel de vítima.
Diversas operadoras concorrentes ao Agente Econômico Preponderante no Setor de Telecomunicações (AEPT) documentaram e relataram ao IFT, ao longo dos últimos 11 anos, que este agente descumpriu reiteradamente diversas obrigações específicas que lhe foram impostas para permitir a criação de condições “como se o mercado operasse em condições de concorrência”, conforme previsto na Constituição e no ordenamento jurídico. No entanto, infelizmente para o mercado e para os usuários de serviços de telecomunicações no México, o IFT quase não impôs sanções, em comparação ao acúmulo de processos abertos contra a operadora.
Isso envia uma mensagem desanimadora para aqueles que querem realmente competir no México: quando o agente econômico que controla a maior parte do setor de telecomunicações se comporta mal, é quase improvável que ele seja sancionado e forçado a corrigir seu comportamento, em detrimento do povo mexicano.
*O autor é economista.
Eleconomista