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As consequências da tentativa do presidente Petro de questionar a proteção do sistema eleitoral colombiano

As consequências da tentativa do presidente Petro de questionar a proteção do sistema eleitoral colombiano
Nesta quarta-feira, o Registro Nacional adjudicou o contrato-chave para a logística das próximas eleições na Colômbia — conselhos de jovens (2025) e eleições legislativas e presidenciais (2026). O valor do contrato é de pouco mais de 2 bilhões de pesos e, diferentemente do que costuma acontecer nesse tipo de licitação, nem os órgãos de supervisão, nem os observadores independentes, nem as empresas inicialmente interessadas no negócio, apresentaram grandes objeções à decisão: a vencedora foi a Unión Temporal Integración Logística Eleitoral 2026 (UT ILE 2026), liderada por Thomas Greg & Sons.
A Thomas é a mesma empresa que fabrica passaportes colombianos há mais de 15 anos e que o presidente Gustavo Petro acusou, sem apresentar provas, de supostos atos de corrupção para justificar sua decisão de retirá-la do contrato. A controversa condução pelo Governo Nacional de sua responsabilidade de garantir a emissão deste documento – cuja segurança e confiabilidade foram fundamentais para a decisão da União Europeia de retirar vistos para colombianos há quase uma década – está na mira da Procuradoria-Geral da República e da Controladoria-Geral da União.

O presidente Gustavo Petro participará do desfile do dia 20 de julho em Santa Marta. Foto: Gabinete do Presidente

“Este governo não é subserviente a Thomas e Gregg (sic), cujo conselho de administração inclui ex-presidentes e candidatos presidenciais. É absolutamente imoral que candidatos de alto escalão da oligarquia administrem a empresa que realiza as contagens. Uma enorme zombaria da democracia”, escreveu o chefe de Estado pouco antes da adjudicação oficial do contrato do Registro.
De fato, os ex-presidentes Juan Manuel Santos e Andrés Pastrana, bem como a ex-ministra e candidata presidencial Noemí Sanín, atuaram no conselho de administração da empresa. Também é fato que Thomas Greg teve contratos para a logística das eleições em que Petro foi eleito para o Congresso e quando conquistou a Prefeitura de Bogotá (2011) e a Presidência da República (2022), os dois cargos eletivos mais importantes do país. Não é verdade, como afirmou o presidente, que a empresa "faz os cálculos", pois seus serviços se concentram na impressão e na logística de entrega de materiais eleitorais.
As declarações do presidente motivaram uma defesa ferrenha do sistema eleitoral colombiano. O Procurador-Geral da República, Gregorio Eljach, emitiu um comunicado negando as irregularidades na contratação do Cartório de Registro Civil e expressando sua confiança no trabalho que vem realizando. "Não estou apenas confiante, mas determinado a que as eleições sejam um processo democrático, transparente, livre de quaisquer circunstâncias desfavoráveis. As eleições sejam realizadas nas datas que devem ser, com as pessoas que devem votar e com os métodos já estabelecidos", afirmou.

Presidente Gustavo Petro e Thomas Greg & Sons, um de seus alvos constantes de críticas. Foto: Presidência

Os sindicatos também se uniram para defender o sistema eleitoral. “O Cartório de Registro Civil representa um dos maiores símbolos da democracia e cabe a todos os democratas apoiar sua gestão. É necessário destacar e fortalecer seu desenvolvimento e objetividade, e proteger sua posição como garantidor das eleições do nosso país”, disse Bruce Mac Master, presidente da Associação Nacional de Empresários da Colômbia (Andi).
As mensagens do Governo
Além dos tuítes da sessão anterior, os ataques do governo se intensificaram justamente no dia em que o Cartório concedeu o contrato. "Em qualquer democracia, os partidos devem poder auditar os algoritmos do software de computação eleitoral para determinar se ele é transparente ou não. Na Colômbia, esse direito eleitoral nunca foi exercido. Eu mesmo pedi ao Cartório Vega que o permitisse e o incluí no projeto de código eleitoral em debate no Congresso. Vega não concordou em entregar os algoritmos do software, e o código eleitoral fracassou no Tribunal Constitucional. A empresa que detinha o software era a Thomas and Gregg (sic) e, estranhamente, com termos de referência manipulados, agora a estão designando para gerenciar o software eleitoral", disse o presidente em sua última mensagem sobre o assunto. A insistência do chefe de Estado em vincular a empresa à gestão do software eleitoral é impressionante, pois claramente não corresponde aos fatos.
Essas mesmas posições, embora mais moderadas, foram as apresentadas pelo Ministro do Interior, Armando Benedetti, na sessão de quinta-feira da Comissão de Monitoramento Eleitoral, realizada no Hotel Tequendama, em Bogotá. Ele reiterou que a Casa de Nariño tem preocupações quanto ao cumprimento integral de uma decisão do Conselho de Estado que ordena ao Cartório Eleitoral a implementação de "correções estruturais" no sistema eleitoral. "Entre essas correções está a de que o software de apuração seja estatal. Mais de cinco anos se passaram e as entidades ali mencionadas descumpriram parcialmente essas decisões", afirmou.
Além de suas divergências de longa data com Thomas Greg, as mensagens do presidente e do Ministério do Interior revelam que o governo Petro está usando a decisão do Conselho de Estado de 8 de fevereiro de 2018 sobre o Mira e as irregularidades que o afetaram nas eleições de 2014 como ponto de partida. Baseadas em uma história real, suas declarações contêm inúmeras imprecisões.

Armando Benedetti, Ministro do Interior. Foto de : César Melgarejo EL TIEMPO

A decisão em questão anulou a eleição dos senadores Sofía Alejandra Gaviria (Partido Liberal), Teresita García (Opção Cidadã) e Honorio Henríquez (Centro Democrático), e concedeu essas cadeiras aos três candidatos mais bem colocados do partido Mira. O motivo foi que o tribunal administrativo superior encontrou diversas irregularidades que impediram o partido de atingir o limite mínimo de cadeiras no Senado em 2014.
Como a Thomas Greg & Sons fazia parte da joint venture que participou da logística dessas eleições, o presidente usou este caso para alegar que não há garantias. No entanto, em nenhum momento a decisão — que tem mais de 300 páginas — indica que as inconsistências que afetaram a Mira decorreram da organização logística, tarefa que a empresa assumiu em mais de 20 contratos desde 2011.
Os erros detectados pelo tribunal administrativo concentraram-se na manipulação direta do software, que — ao contrário do que alegou o presidente — não foi fornecido por Thomas Greg. "Assim, por um lado, ficou comprovada a irregularidade ocorrida no processo de apuração, sob a acusação de violência ou sabotagem contra os sistemas de votação, informação, transmissão ou consolidação dos resultados das eleições de 9 de março de 2014, envolvendo 3.630 registros (1.412 tabelas)", afirma a decisão.
Isso demonstra claramente que a responsabilidade pelo fornecimento do software recaiu sobre a ASD. Esta empresa apoiou Thomas Greg nas licitações subsequentes que ele venceu, incluindo as eleições nas quais Gustavo Petro foi eleito presidente. Outro fato marcante é que esta mesma empresa possui atualmente contratos com o governo Petro (Fiduprevisora, Ministério da Habitação e Fontic), no valor de 15 bilhões de pesos.
Além de identificar vulnerabilidades no software, a decisão não se aprofunda na potencial responsabilidade da ASD. A empresa continuou a participar de sindicatos temporários sem objeções. Além disso, o órgão eleitoral começou a tomar as medidas cabíveis para mitigar o problema. Tanto que o próprio tribunal administrativo rejeitou uma ação de anulação de 2023 contra vários membros do Congresso do Pacto Histórico, com base na segurança do software utilizado.

Conselho de Estado Foto: Conselho de Estado

"O software que dá suporte ao processo de contagem de votos foi equipado com novos recursos de segurança, que o protegem de adulterações", foi um dos argumentos usados pelo Conselho de Estado para rejeitar o processo contra as cadeiras dos congressistas da coalizão governista.
Prova desse fortalecimento é o cumprimento da decisão Mira pelo Conselho de Estado. O Conselho insistiu que o Estado deve ser o proprietário do software de contagem para garantir a segurança e a rastreabilidade completa das transações realizadas nessa plataforma. Foi o que aconteceu: o Cartório Eleitoral adquiriu um programa de contagem da Indra para as eleições de 2022 e o entregou para uso do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Este último é responsável por toda a contagem oficial de votos em todo o país. Para essas eleições, o próximo passo é contratar a mesma empresa espanhola para manter e atualizar o software adquirido.
Ex-registradores respondem
As declarações do presidente Petro — que disse no ano passado que considerava o sistema eleitoral venezuelano, totalmente controlado pela ditadura de Nicolás Maduro, mais confiável e transparente do que o colombiano — geraram forte oposição de vários setores.
Juan Carlos Galindo, registrador interino entre janeiro e dezembro de 2007 e que atuou como registrador entre 2015 e 2019, disse ao EL TIEMPO: “Há uma questão muito importante: organizar o processo eleitoral é um processo muito complexo que exige muita experiência e apoio. Não se trata apenas de comprar alguns computadores e imprimir. São ações com múltiplas implicações que exigem experiência e conhecimento significativos. A Thomas e as outras empresas demonstraram ter o conhecimento e a experiência necessários.”

Alexander Vega. Foto: Cartório de Registro Civil

Por sua vez, o ex-secretário Alexander Vega — que liderou as eleições nas quais Petro conquistou a presidência e seu partido, o Pacto Histórico, obteve maioria no Senado e na Câmara dos Deputados — declarou: “Um ataque presidencial a um operador logístico é inaceitável, especialmente quando ele tem experiência em muitos processos eleitorais. Não se trata de construir uma obra pública, uma ponte, onde alguém pode cometer um erro e ele pode ser corrigido. Aqui, as eleições devem ser realizadas no dia da eleição: montar as seções eleitorais, coletar os resultados, transmiti-los e digitalizá-los. Isso requer uma operação logística.”
Nesse sentido, ele respondeu ao Presidente e ao Ministro Armando Benedetti que, desde 2021, é o responsável por cumprir a ordem de compra do software de contagem da Indra. O Estado tem controle total sobre todas as etapas desse processo, com rastreabilidade, e o acesso aos dados consolidados é restrito, por meio de biometria, aos juízes da República que realizam a contagem.
Segurança do sistema
O escrivão, Hernán Penagos, abordou as preocupações expressas pelo Executivo sem entrar em confronto direto. "Nas últimas eleições, o software de apuração foi gerenciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), tanto para as eleições para o Congresso quanto para a presidência. Cabe ressaltar que este software foi adquirido da empresa espanhola Indra e será novamente disponibilizado ao CNE", afirmou.
Na mesma linha, o Cartório Eleitoral enfatizou o que vem fazendo para garantir o processo eleitoral do próximo ano. As dúvidas do Governo Nacional não significaram uma mudança de planos, mas sim um reforço para continuar protegendo um sistema eleitoral considerado um dos mais eficientes e transparentes na organização da votação e na gestão, custódia e apuração de dados.

O registrador nacional, Hernán Penagos. Foto: Cartório

A autoridade eleitoral mencionou cinco ações-chave que vem tomando para construir confiança: auditorias robustas, acesso dos partidos ao código-fonte do software de contagem, observação internacional, biometria facial para controlar o roubo de identidade e a publicação de todos os registros eleitorais. Especificamente, a suposta falta de auditorias e de acesso ao código-fonte do software tem sido algumas das alegações do Presidente Petro em relação à falta de garantias.
Enquanto o governo persiste com a narrativa de questionar a organização eleitoral – alimentando, aliás, o espectro de um suposto plano de Petro para adiar as eleições, que ele próprio e seu Ministro da Defesa, Pedro Sánchez, negaram –, analistas e especialistas alertam sobre o que consideram os riscos reais para a democracia colombiana: o crescente poder de grupos armados nas regiões, em meio a poucos avanços rumo à "paz total", e a corrupção da máquina eleitoral que já começa a assombrar os eleitores nas regiões. Os espectros de campanhas prematuras e a violação dos limites eleitorais – questões que foram levantadas especificamente sobre a campanha presidencial de Petro em 2022, atualmente sob investigação do CNE – bem como a participação política indevida de altos funcionários e o mau uso de recursos públicos, continuam a assustar a política colombiana.
Penagos assumiu pessoalmente a responsabilidade de bater de porta em porta nas Forças Públicas, órgãos de supervisão e organizações de observação nacionais e internacionais para solicitar apoio à integridade do processo. Inicialmente, ele contatou o Ministro da Defesa para reforçar a segurança das eleições atípicas que ocorreram em diversas regiões. Dessas conversas surgiu a ideia de reunir todos os delegados de polícia departamentais para monitorar a ordem pública.
Da mesma forma, houve um diálogo com a Procuradora Luz Adriana Camargo para a criação da Comissão Nacional contra Crimes Eleitorais. Na última segunda-feira, mais de 20 observadores nacionais e internacionais, incluindo a União Europeia, a OEA, o Centro Carter, a MOE e a Transparência para a Colômbia, foram convidados ao escritório de Penagos para abordar preocupações e convidá-los a monitorar as eleições do próximo ano.

Escrivão Hernán Penagos. Foto: Milton Díaz / EL TIEMPO

Às portas fechadas, Penagos emitiu instruções para tomar todas as medidas possíveis para construir confiança e combater a desinformação. Nesse sentido, também está prevista a criação de aplicativos ou chatbots para fornecer aos cidadãos informações sobre o processo, bem como o uso de análise de dados para cruzar informações a fim de combater a transumância eleitoral e transmiti-las à CNE.
Em relação ao contrato de logística concedido à joint venture formada pela Thomas Greg & Sons, a ideia é reunir diversas partes interessadas para demonstrar como as diversas etapas do contrato estão sendo executadas.
O impacto presidencial
Setores da sociedade civil têm chamado a atenção para a postura presidencial. A Missão de Observação Eleitoral (MOE) – veja a entrevista acima – afirmou que acusações desse tipo são potencialmente arriscadas porque partem da pessoa que as emite (o próprio presidente) e porque não são precisas.
Por sua vez, o analista e colunista do EL TIEMPO, Gabriel Cifuentes, expressou preocupação com o impacto das declarações do presidente. "As declarações (de Petro) são lamentáveis. Como chefe de Estado, sem provas concretas, ele lança uma sombra de dúvida, deslegitimando não apenas as funções constitucionais do Cartório de Registro Civil, mas também o sistema eleitoral como um todo", opinou.
Especialistas afirmam que as ações do Presidente Petro são perigosas, pois levantam dúvidas sobre um sistema que foi reconhecido por sua robustez até mesmo por missões estrangeiras de observação eleitoral, como demonstra o relatório da MOE-União Europeia (MOE Europa) no documento elaborado após as eleições de 2022. "A complexidade das eleições para o Congresso apresentou dificuldades específicas, mas estas foram amplamente superadas. Em particular, a introdução de cédulas separadas ajudou claramente a reduzir a taxa de votos nulos. O Cartório fez esforços concertados para corrigir as fragilidades identificadas após as eleições legislativas, e estas, combinadas com a relativa simplicidade das eleições presidenciais, garantiram que os dois dias seguintes de eleições transcorressem de forma particularmente tranquila. Testemunhas de partido puderam observar todas as etapas sem restrições indevidas e tirar fotografias das folhas de resultados", afirma o documento.

Renúncia de Támara Ospina, Vice-Ministra da Mulher. Foto:

Juan Sebastián Lombo Delgado
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