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César Gaviria pede ao Ministério Público que investigue o ministro Guillermo Alfonso Jaramillo pela forma como lida com questões de saúde.

César Gaviria pede ao Ministério Público que investigue o ministro Guillermo Alfonso Jaramillo pela forma como lida com questões de saúde.
O ex-presidente e líder do Partido Liberal César Gaviria solicitou que o Ministério Público abra uma investigação formal contra o Ministro da Saúde, Guillermo Alfonso Jaramillo, por possível má conduta intencional por supostamente contribuir para o "subfinanciamento sistemático" e a "deterioração progressiva" do direito à saúde.
Para o ex-presidente, o subfinanciamento crônico, a fragmentação institucional, o colapso progressivo das empresas de planos de saúde e os atrasos sistemáticos nos pagamentos a hospitais e profissionais criaram uma situação insustentável que ameaça o acesso efetivo e oportuno aos cuidados de saúde.
Segundo os Vermelhos, o governo ignorou todos os alertas sobre o sistema de saúde . "Essa responsabilidade não recai exclusivamente sobre o ministro, mas também sobre a Superintendência de Saúde e todos os funcionários que, por ação ou omissão, facilitaram o colapso institucional. Essa conduta pode constituir infração disciplinar, fiscal e possivelmente criminal, e deve ser objeto de uma investigação rigorosa e independente", afirmou Gaviria.
Nesse sentido, a Controladoria-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República foram instadas a apurar as responsabilidades correspondentes.
A declaração completa

Ex-presidente César Gaviria. Foto: Partido Liberal

O Tribunal Constitucional foi claro: o direito à saúde na Colômbia é fundamental, autônomo e inalienável. A Sentença T-760 de 2008 e a Lei Estatutária 1751 de 2015 consolidaram esse reconhecimento e determinaram transformações estruturais. No entanto, persistem falhas críticas, que o governo tem exacerbado.
A Câmara de Monitoramento do Tribunal documentou sérios contratempos: subfinanciamento da Unidade de Pagamento Per Capita (UPC), desconsideração das decisões C-978 e C-979 de 2010, exclusão de partes interessadas importantes dos comitês técnicos e uso de dados inconsistentes para calcular a adequação financeira do sistema. As consequências são evidentes: um aumento exponencial nos mandados de proteção (265.000 em 2024), uma queda nas matrículas (de 99% para 96,5%) e um colapso no atendimento devido à falta de suprimentos e pagamentos.
O governo tem sido alertado repetidamente. A Controladoria constatou que as EPSs acumularam uma dívida de US$ 32,9 bilhões, 16 apresentam problemas de liquidez e apenas seis atendem aos requisitos financeiros. A Nueva EPS — com 11,5 milhões de membros — nem sequer apresentou suas demonstrações financeiras. A crise de fluxo de caixa prejudicou o acesso a medicamentos, o pagamento à equipe médica e a sustentabilidade dos serviços.
Apesar disso, o Ministro Jaramillo ignorou decisões, interveio em entidades sem o devido processo legal — como no caso Sanitas, onde o Tribunal declarou violação de direitos — e promoveu medidas que agravaram o colapso. Há alguns meses, declarei que processar empresas de planos de saúde sem fornecer financiamento estatal é um ato ilegal e uma violação da Decisão SU-480 de 1997.
Soma-se a isso a reclamação de que os decretos recentes não resolvem os problemas estruturais e, ao contrário, podem desmantelar o sistema sem oferecer uma alternativa funcional. A prestação desorganizada de cuidados, a falta de controle fiscal sobre modalidades contratuais como o PGP e o aumento de 23% nos PQRs são sintomas de uma crise induzida.
Hoje, o sistema não está entrando em colapso por falta de diagnósticos, mas sim por negligência em lidar com eles. Os alertas foram emitidos pelo Supremo Tribunal Federal, pela Controladoria Geral da União e por especialistas . Ignorância não é desculpa. E as vidas de milhões de pessoas estão em jogo.

Guillermo Alfonso Jaramillo, Ministro da Saúde. Foto: Ministério da Saúde

De qualquer forma, milhões de cidadãos vivem hoje com a incerteza quanto à continuidade de seus tratamentos, ao funcionamento de seus prestadores de serviços e à viabilidade das reformas. A saúde, como direito fundamental, não pode continuar refém de disputas políticas ou interesses ideológicos. Diante dessa crise, os partidos Liberal, Conservador e U propuseram em 2023 um caminho de reformas responsáveis, no âmbito do sistema atual, que o Tribunal Constitucional endossou, afirmando na Sentença C-378 de novembro de 2023 que não há proibição de EPSs operarem com fins lucrativos e que o sistema atual estava dentro da nossa ordem constitucional.
Desde o início do debate que teve início na Casa de Nariño e cujo objetivo era discutir com o presidente a possibilidade de o governo financiar áreas marginalizadas para as quais não tínhamos recursos, a ex-ministra Carolina Corcho deixou clara a intenção do governo: eliminar as EPS e destinar diretamente os recursos subsidiados a uma nova estrutura estatal. Isso se traduziu em uma estratégia deliberada e metódica para provocar uma crise explícita, calculada para garantir que o sistema permanecesse público, sem considerar que tal metodologia, àquela altura, já estaria em contradição com as decisões do Tribunal Constitucional. Recentemente, o presidente Gustavo Petro foi direto: "Não faço nada e deixo acontecer".
Isto, apesar de as três partes, sensatamente e com trabalho cuidadoso, terem proposto uma solução que corrigia as falhas do sistema, sem desrespeitar as disposições do Tribunal Constitucional e sem introduzir alterações desnecessárias e incompatíveis com alterações profundas no sistema. Mas, a partir desse momento, o Ministro optou pelo caminho do desrespeito sistemático à lei, incorrendo no que constitui desacato aberto e sistemático às decisões judiciais.
A intenção foi brutalmente confirmada. Com uma franqueza que beira o cinismo, o atual Ministro da Saúde, Guillermo Alfonso Jaramillo, reconheceu publicamente que as EPS estão sendo levadas "para a UTI" enquanto se tenta impor uma reforma amplamente questionada que ignora as decisões e despachos do Tribunal até o momento. Não foi um lapso: foi a confissão aberta de uma estratégia de sufocamento institucional. É sabido que as declarações de que essas dívidas seriam pagas, o que não acontecerá, são falsas.
Relatórios indicam que a situação fiscal será o motivo que o Estado citará. O governo não tem recursos fiscais para pagar as dívidas multimilionárias que tem com o sistema. A situação está piorando. O próprio ministro declarou que os EPSs servem apenas como uma "cortina" enquanto seu novo projeto é aprovado. Mas, sem pagamentos, o sistema entrará em colapso em breve, e o que restará será um sistema frágil e falido, quase incapaz de atender aos mais pobres. Tenho certeza de que o presidente Petro não tem consciência de que este é um problema que o ameaça.

A Sanitas EPS, com 5,7 milhões de associados, foi uma das afetadas. Foto: Getty Images

Tenho certeza de que, quando o governo começou a comparar nossos indicadores com os da OCDE, estes últimos eram, em sua esmagadora maioria, de países desenvolvidos. A Colômbia e outros países latino-americanos foram levados para lá pela crise gerada pela criação da ALCA com os países do Mercosul, mas, como dissemos na época, era uma comparação inadequada. O governo insistia que nosso sistema era ruim, quando era melhor do que o da vasta maioria dos países em desenvolvimento. Na verdade, era um modelo de eficiência em muitas frentes. Não sabemos o que o ministro pensou sobre isso. Ele deve ter entendido o ponto da discussão, mas não participou, embora deva ter entendido seu significado.
Porque não são apenas as EPS que estão em tratamento intensivo. Também estão os pacientes, as clínicas e hospitais, que fecham seus serviços diariamente, e os fornecedores, que não conseguem mais garantir a entrega de medicamentos vitais. Hoje, as EPS devem US$ 2,8 trilhões às operadoras farmacêuticas, comprometendo seriamente o fornecimento de medicamentos essenciais. E como se não bastasse, 29,7 milhões de colombianos — 6 em cada 10 — são filiados a EPS que estão intervencionados há mais de um ano e meio, sem viabilidade operacional ou financeira, como alertou a Controladoria Geral da República. Essa explicação esconde o fato de que a má gestão das EPS decorre da má gestão da Superintendência de Saúde, cujo superior hierárquico é o ministro. Uma das decisões mais desajeitadas foi o ministro processar todas as EPS que administra por não cumprirem os indicadores financeiros, e era sua responsabilidade administrá-las.
Segundo a Controladoria-Geral da União, em 2024, a taxa de acidentes no sistema de saúde atingiu 110%, o que significa que, para cada 100 pesos recebidos, o EPS gastou 110. Os custos do sistema somaram US$ 94 bilhões, enquanto as receitas mal chegaram a US$ 87,9 bilhões. Em outras palavras, o sistema está subfinanciado e o governo simplesmente não parece se importar.
Longe de abrir espaços para diálogo técnico ou construir sobre o que funciona, optou-se por destruir tudo. Não se trata de uma política pública: é uma manobra de demolição institucional.
Um caso doloroso e emblemático foi o de Ana María Cuesta, diretora do Centro de Memória, Paz e Reconciliação de Bogotá, que faleceu em 11 de junho de 2025, em decorrência de complicações decorrentes de hipertensão pulmonar secundária associada ao lúpus eritematoso sistêmico. A Famisanar, sua prestadora de serviços de saúde, não lhe forneceu medicamentos vitais, o que precipitou sua morte. Esta tragédia não é um caso isolado: é a consequência direta de um colapso institucional que o governo se recusa a reconhecer e assumir.
A responsabilidade de garantir cuidados a pacientes gravemente enfermos é legal e constitucionalmente inevitável, mesmo quando se trata de EPSs passando por intervenção ou liquidação.
O Tribunal Constitucional tem sido claro e repetitivo. Na Sentença 007 de 2025, exigiu novamente que o governo calculasse rigorosamente os recursos necessários para garantir o funcionamento do sistema, incluindo os ajustes relevantes à Unidade de Pagamento por Capitação (UPC) e à cobertura de serviços fora do Plano de Benefícios. Essa determinação se soma às disposições da Sentença 2882 de 2023, na qual o Tribunal ordenou que o governo garantisse o fluxo tempestivo de recursos e respeitasse o arcabouço legal vigente.
No entanto, o Ministro da Saúde persiste em seu descaso sistemático. Ele entra com pedidos de anulação, solicita esclarecimentos e parece cumprir, mas, na prática, desobedece à sua maior responsabilidade: proteger os direitos fundamentais de milhões de colombianos. Ele prefere assistir ao colapso do sistema a implementar soluções que já conhece. E não se trata apenas de omissão.

Apólices de seguro saúde e medicamentos pré-pagos Foto: iStock

Recentemente, o Plenário do Tribunal Constitucional decidiu sobre uma ação judicial movida por acionistas da Sanitas e ordenou à Superintendência da Saúde que devolvesse a EPS aos seus proprietários, considerando que sua intervenção foi arbitrária, carente de garantias processuais ou de fundamento técnico. No entanto, circulam relatos preocupantes: a Superintendência não estaria disposta a cumprir a ordem.
Nem o ministro nem o superintendente ofereceram uma resposta clara à decisão do Tribunal. Pelo contrário, há um receio crescente e fundado de que uma nova intervenção ou mesmo a liquidação da Sanitas esteja sendo preparada, o que colocaria em risco o atendimento de milhões de usuários e agravaria a crise humanitária e financeira que o país atravessa.
A Superintendência da Saúde ignorou os reiterados apelos do Tribunal Constitucional para garantir o financiamento adequado do sistema, uma causa estrutural do fracasso das EPS em atingir os indicadores financeiros. Longe de apresentar soluções, suas intervenções levaram a uma deterioração ainda maior da qualidade do serviço, evidenciando as profundas limitações desta entidade para atuar de forma eficaz em meio à crise.
As consequências jurídicas dessas decisões serão enormes: o Estado terá que arcar com prejuízos multimilionários devido à má gestão. É urgente repensar o modelo de intervenção e conceber um sistema mais competente para a gestão dos EPSs, tarefa que a Superintendência tem se mostrado incapaz de cumprir.
No caso da Sanitas, o EPS deve ser devolvido aos seus proprietários após 15 meses de intervenção desastrosa, com uma perda de ativos superior a US$ 1 bilhão, reservas técnicas esgotadas e um aumento de mais de 30% nas reclamações. As finanças entraram em colapso e os usuários foram as principais vítimas. O Ministro da Saúde, que fez da Sanitas seu alvo pessoal, permanece em silêncio.
Intervenções em outros EPSs, supostamente justificadas por indicadores de desempenho, também falharam. Não só falharam em melhorar o serviço, como também agravaram a crise financeira. Essa deterioração se reflete claramente na experiência do usuário: solicitações, reclamações e reivindicações (PQRs) aumentaram 23,2% em um ano, passando de 1,3 milhão em 2023 para mais de 1,6 milhão em 2024, principalmente devido a falhas no acesso a serviços e tecnologias de saúde.
Os dados são alarmantes. A Controladoria-Geral da União alertou que as taxas de acidentes continuam a disparar; os ativos agregados dos EPSs, excluindo o Nueva EPS — que surpreendentemente não apresenta demonstrações financeiras desde 2023 — caíram para menos de US$ 10,6 trilhões, e as perdas acumuladas do sistema ultrapassam US$ 14,4 trilhões.
A crise não é meramente financeira. É estrutural, alimentada por uma perigosa mistura de má gestão, negligência administrativa e arrogância institucional. Desde a Sentença SU-480 de 1997, o Tribunal Constitucional deixou claro que o Estado tem a responsabilidade inescapável de garantir a continuidade dos serviços de saúde, mesmo quando prestados por terceiros. Essa jurisprudência reafirma que os EPSs não são meros intermediários: são engrenagens essenciais do sistema, e sua sustentabilidade deve ser assegurada pelo Estado.

Ex-presidente César Gaviria. Foto de : El Tiempo

Nós, do Partido Liberal, alertamos responsavelmente desde 2022: a Colômbia precisa de uma reforma técnica, baseada em evidências e consensual, não de uma demolição política do sistema.
Ele optou pela imposição ideológica em vez do diálogo técnico. Hoje, a Colômbia enfrenta uma crise mais grave do que a vivida sob o antigo sistema de Previdência Social: hospitais em colapso, prestadores de serviços de saúde falidos, pacientes sem medicamentos e profissionais de saúde mergulhados na incerteza. A situação é crítica e exige respostas imediatas.
Do Partido Liberal, exigimos que a Procuradoria-Geral da República instaure uma investigação formal contra o Ministro Guillermo Alfonso Jaramillo por possível conduta dolosa, por ter contribuído para o subfinanciamento sistemático do sistema e a deterioração progressiva do direito fundamental à saúde. Essa responsabilidade não recai exclusivamente sobre o Ministro, mas também sobre a Superintendência de Saúde e todos os funcionários que, por ação ou omissão, facilitaram o colapso institucional. Essa conduta pode constituir infrações disciplinares, fiscais e, possivelmente, criminais, e deve ser objeto de uma investigação rigorosa e independente.
Da mesma forma, solicitamos à Controladoria-Geral da União e à Procuradoria-Geral da República que apurem as responsabilidades correspondentes. A não observância dessas responsabilidades também constituiria omissões graves que comprometeriam a fiscalização dos gastos públicos. A magnitude dos prejuízos ao erário exige uma atuação decisiva e transparente dos órgãos de fiscalização. A atuação inicial do Controlador-Adjunto é particularmente preocupante. Ele apresentou relatórios concisos e tecnicamente imprecisos, sem avaliar exaustivamente as causas estruturais da crise nem atribuir ao governo a responsabilidade por seu impacto fiscal.
Ambas as entidades — a Controladoria-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República — devem corrigir seus rumos e exercer suas funções com rigor, independência e sem medo. Suas ações serão fundamentais para evitar que esta crise se transforme em uma cadeia de impunidade institucional.
Diante dessa situação, é urgente abordar a emergência com a seriedade que o momento exige. Propomos avançar para a declaração de Estado de Coisas Inconstitucional, o que permitiria uma intervenção imediata, transparente e estrutural para preservar o que resta do sistema de saúde colombiano.
Confiamos que tanto a Controladoria Geral da União quanto o Procurador-Geral da República atuarão com a diligência que a crise exige e evitarão que essa situação se transforme em um conflito jurídico de larga escala, não apenas pela tomada ilegal de serviços de saúde como a Sanitas, mas também pela recusa reiterada do Executivo em cumprir decisões judiciais definitivas.
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