Polêmica sobre a Lei da Guarda Nacional: Militares poderão ser deputados e presidentes

O artigo mais polêmico da nova Lei da Guarda Nacional abre portas para que seus membros se candidatem a cargos políticos. Descubra como funciona essa "licença especial" e por que ela ameaça a democracia.
No centro da controversa nova Lei da Guarda Nacional está um artigo que pode redesenhar o mapa político do México: o Artigo 44, que garante aos membros do corpo militarizado um caminho legal para concorrer a cargos eletivos, incluindo a Presidência.
A aprovação da nova Lei da Guarda Nacional não apenas transferiu o controle da Guarda para o Ministério da Defesa Nacional (SEDENA), mas também introduziu uma das disposições mais explosivas e acaloradamente debatidas na história legislativa mexicana recente: a possibilidade de seus membros, treinados sob disciplina militar, se tornarem legisladores, prefeitos ou até mesmo o Comandante Supremo das Forças Armadas.
Essa mudança, contida no artigo 44 da nova lei, gerou alarme entre a oposição e analistas, que a veem como uma ameaça direta à separação histórica entre o poder militar e civil no México.
A "Licença Especial": A Ponte da Milícia para a Política
O mecanismo que possibilita essa transição é uma medida conhecida como "licença especial". De acordo com a lei aprovada, os membros da Guarda Nacional poderão solicitar essa licença para se afastarem de suas funções e concorrerem às eleições. Os prazos estabelecidos são claros:
* Para cargos como deputado ou senador: Eles devem renunciar ao cargo 90 dias antes da eleição.
* Para o cargo de Presidente da República: Devem se separar seis meses antes do dia da eleição.
A Justificativa Oficial: Um Direito Constitucional
O partido governista defendeu essa medida como uma simples questão de coerência jurídica. Ricardo Monreal, coordenador do Morena na Câmara dos Deputados, argumentou que a Constituição garante a todos os mexicanos o direito de votar e ser votado. Na sua perspectiva, a lei apenas regulamenta como os membros da Guarda Nacional podem exercer esse direito, estabelecendo os períodos de afastamento necessários, como é feito para outros funcionários públicos. "O que está sendo feito agora é dar coerência à legislação ordinária", afirmou Monreal.
O Alarme da Oposição: "Militarização da Vida Pública"
A reação da oposição foi direta e contundente. Eles consideram esta cláusula não um mero ajuste técnico, mas uma mudança fundamental que pode ter consequências desastrosas para a democracia mexicana.
"Não é apenas uma mudança administrativa (...), é uma reforma que consolida a militarização da segurança pública, e não apenas isso, consolida a militarização da vida pública no México." – Laura Ballesteros Mancilla, Representante do Movimento Cidadão.
As principais preocupações expressas pelos legisladores de partidos como o PAN e o Movimiento Ciudadano são as seguintes:
* Conflito de interesses: um legislador ou oficial que vem das forças armadas pode ter lealdades divididas entre seus eleitores e sua instituição de origem, especialmente ao votar em orçamentos de defesa, supervisão das forças armadas ou investigações de direitos humanos.
* Erosão do Poder Civil: A criação de uma “casta” política com origem militar poderia normalizar a presença das Forças Armadas em esferas decisórias que, por tradição e princípio democrático, deveriam ser exclusivamente civis.
* Modelo autoritário: O PAN alertou que, a pretexto da segurança, se pretende impor um "modelo autoritário que coloca em risco a democracia".
Um debate com a história e o futuro incerto
A sensibilidade da questão reside na história do México e no esforço de décadas para manter as Forças Armadas subordinadas ao poder civil eleito. A nova lei não apenas esbate essa linha, como também cria uma carreira inteiramente nova: do quartel à magistratura.
Isso levanta questões cruciais para o futuro: veremos o surgimento de um bloco parlamentar com uma agenda pró-militar? Como a dinâmica de poder mudará se um ex-general da Guarda Nacional assumir o governo de um estado ou ocupar um alto cargo no gabinete? Os críticos veem a curta separação de 90 dias ou seis meses como uma mera formalidade legal, insuficiente para apagar uma vida inteira de treinamento militar, lealdade e visão. A porta foi aberta, e as consequências para aqueles que a cruzarem ainda estão por vir.
La Verdad Yucatán