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José Manuel Trigo. “No Algarve, vendíamos o very typical”

José Manuel Trigo. “No Algarve, vendíamos o very typical”

Começou a vender lotes na Quinta do Lago, em 1972, mas foi no Brasil que despertou para o mundo da noite, tendo sido diretor de duas das discotecas mais importantes da história brasileira: o Hippopotamus e a Regine’s, onde conheceu muitos astros de Hollywood, políticos mundiais, bem como a fina flor brasileira, além do mundo da Globo. Em Portugal, ficou sempre com o rótulo do dono das discotecas das tias e dos tios

Tem 75 anos e diz que não é saudosista, mas ainda não terá desistido de voltar a ter um restaurante-discoteca. José Manuel Trigo foi o responsável por dar música à classe política, empresarial, económica e desportiva na década de 90 e no princípio dos anos 2000. T-Clube, Trigonometria, Torre Vasco da Gama, Stones e Trifásico são as suas marcas na animação noturna e na restauração, em Lisboa, Quinta do Lago ou Braga. Mas poucos sabem que, juntamente com Raul Durão, chegou a reformar e requalificar a danceteria Lido, na Amadora. Esta é a segunda entrevista a personagens que marcaram o Algarve nos últimos trinta anos.

Vive na Quinta do Lago há muitos anos. Não, moro no Valverde.

Que é a 50 metros da Quinta do Lago. A três metros. Aliás, a estrada original era em frente da minha casa. A estrada chegava ali, fazia uma curva e entrava para a primeira rotunda, que agora é a segunda. E ali havia muitos estampanços, porque a malta vinha com alguma velocidade. Ainda me lembro que a primeira mulher do André espalhou-se ali, aquilo era uma curva apertada. Depois é que o André Jordan fez a primeira rotunda.

Quando abriu o T-Clube na Quinta do Lago? Primeiro foi a Trigonometria, em 87, o T-Clube em 88, o Stones, em 89, e T-Clube de Lisboa e a Trifásica, em 93. Em 98, a Torre Vasco do Gama.

Hoje não tem nenhum desses espaços? Não tenho nenhum.

Quando passa à porta do Cuá Cuá, antigo T-Clube da Quinta do Lago, o que sente? Não sou um saudosista. Preocupo-me mais em olhar para a frente do que para trás. Mas gosto do projeto do Cuá Cuá. Tudo evolui, se fizesse hoje um T-Clube não fazia da mesma maneira que fiz em 88. O restaurante era separado do bar, o bar era separado da discoteca, a discoteca era separada do jardim. Hoje, o conceito é praticamente uma sala única que ‘vira’ restaurante e, a seguir, às 11 da noite ou meia-noite, as luzes mexem, a animação começa, e aquilo vira tudo um grande espaço de animação. Por conseguinte, se hoje fizesse um T-Clube não o faria com as divisórias iniciais, que eram as da época. É como a roupa, é como os automóveis, os modelos vão evoluindo e a gente também vai ter de evoluir. Ainda a semana passada lá estive, [na semana de 10 a 15 de agosto], fui três ou quatro vezes em agosto. A Vera Roquette [a mulher] é que ainda não fez o luto. Agora o que é pena é nós no Algarve não conseguirmos combater a sazonalidade, porque, mal ou bem, o T-Clube funcionava o ano inteiro. Só nos últimos dois, três anos é que já não foi assim. Passaram os anos e houve aquela tendência mais moderna das discotecas só abrirem um mês. É evidente que isso afetou terrivelmente a animação no Algarve, o que é natural. Eu ‘enchia’ o poço no verão, íamos tirando alguma água no inverno para sustentar o inverno, e com alguma sorte, no fim do mês de agosto, pagávamos as dívidas todas, e víamos o que ficava no banco. E ali começava outra vez o sacrifício de setembro, outubro, novembro e tal, depois lá vinha a passagem de ano, o Natal, o Carnaval, a Páscoa, depois vinham aqueles feriados do 10 de junho, e nós íamos tentando equilibrar as contas. E ao mesmo tempo também havia uns congressos nos hotéis, que como não tinham espaços de animação, ligavam-nos e nós fazíamos ali na Trigonometria festas de bar aberto para mil médicos, por exemplo. Eram coisas desse género que funcionavam como um balão de oxigénio. Mas também isso acabou quando o Tivoli, por exemplo, fez aquele grande centro de congressos, passando a fazer lá as festas. Fez o seu negócio, como eu também faria.

O cerco foi-se apertando? O Algarve está cada vez mais sazonal, não há animação fora de estação. Já quase não se consegue ter movimento no mês de julho, e depois chega ali a meados de agosto, fecha-se a porta e vão-se embora, e está feito. Aliás, na altura, tivemos reuniões com o poder político, explicámos tudo o que ia acontecer, está tudo escrito e está identificado. Preferiram a animação de um mês.

Como se conseguia ter animação o ano inteiro? Sou do tempo em que não havia autoestrada para o Algarve e ao fim de semana havia gente que ia beber um copo ao Algarve. Vinham pessoas de Beja, de Évora, vinham de todo o lado, e na altura, a época de Natal era um enchente na Quinta do Lago, em Vale do Lobo, em Vilamoura, a Páscoa era uma loucura. Vinha malta do Porto por dois, três dias, passavam um dia para cima, um dia para baixo de automóvel, sem autoestrada. Hoje a autoestrada, quase que me arrisco dizer, em vez de trazer, levou. Ou seja, é mais fácil o algarvio ir a Lisboa divertir-se do que a malta de Lisboa ir para o Algarve divertir-se no fim de semana, até porque não tem onde ir. Hoje só se tiver uns miúdos e forem para os escorregues de Quarteira.

Sim, mas qual é que era a solução para funcionar o ano todo? Temos que ir à base. A base é um conjunto de circunstâncias. Não é um T-Clube da vida ou uma Trigonometria ou um Kadoc ou seja o que for, que vai movimentar o turismo do Algarve. O turismo do Algarve tem que olhar para um todo. É evidente que uma das coisas mais importantes será a gastronomia, será o bem-estar, a beleza da região, etc, etc. Eu, José Manuel Trigo, sou um homem triste, amargurado, porque vejo o meu Algarve sem beleza. Entro na A2, saio da A2 e o meu carro começa a tremer por todo o lado porque o piso da Via do Infante é caótico. Não se percebe como é que um Algarve que contribui com milhões e milhões de receita para o PIB português, e não há dinheiro para pôr um tapete novo numa Via do Infante. Será que o país é tão miserável que não consegue retribuir ao Algarve um piso asfáltico para pôr uma Via do Infante como deve ser? E a poluição? Hoje o caminho para a Quinta do Lago tem mais outdoors do que pinheiros, não tem nexo. Quem faz turismo começa pela beleza estética, desde o aeroporto até chegar ao seu hotel. Se só vir lixo nas bermas, o asfalto todo esburacado, uma poluição visual terrível por todo o lado… O André Jordan dizia, em 82, quando regressámos do Brasil, ‘que felicidade, o Algarve ainda não é moda’. Mas o problema é que o Algarve ainda não conseguiu ser moda. Tem nichos fantásticos como a Quinta do Lago, Vale do Lobo, a Vila Lara, a Vila Joia, etc, etc. Mas tirando esses nichos, tenho hoteleiros, meus amigos, que até tem hotéis ali na zona da Albufeira, que dizem que têm que fazer percursos periféricos a Albufeira para não mostrar Albufeira aos turistas. É um verdadeiro escândalo quando nós chegamos a um ponto deste. Desde um aeroporto que leva três horas para um tipo carimbar um passaporte, a não haver animação – agora, o primeiro-ministro diz que vai trazer a Fórmula 1. Está bem, mas depois os turistas vão na Via do Infante para chegar à Fórmula 1 numa estrada degradada, com outdores por todo o lado, com lixo por todo o lado. É um caos. O Algarve precisa de uma limpeza. Limpava aquilo tudo e era a melhor promoção, porque quem nos visita é quem vai para a terra dele outra vez e vai dizer, ‘epá, fui ao Algarve e aquilo é porreiro’. Mas diga-me uma coisa. Há um helicóptero no aeroporto de Faro para levar uma pessoa para o hotel que quer ir ou para o seu apartamento? E não precisa de ser rica, porque eu chego a Nice, apanho o helicóptero e vou para o Monte Carlo. Não há um helicóptero, não há um Ferrari, não há um Rolls Royce para alugar no aeroporto de Faro. Quando falamos de turismo de alta qualidade, então temos que pensar…

Não quer que seja o Estado a fazer isso? O Estado? Não, o Estado não tem nada a fazer.

Então o que é preciso fazer? Sou o anti Estado, não admito que um empresário vá ao Estado e diga que tem dificuldade de água. O Estado diz que sim senhor, temos que poupar a água nas torneiras, vamos lá pôr uma torneira inteligente. O que é uma torneira inteligente? É uma torneira que em vez de derramar água durante 30 segundos, derrama água durante 15. E vem o industrial e diz então dê-me um subsídio para comprar uma porra de uma torneira. Isto é escandaloso. Em 30 anos como empresário que fui, nunca tive a coragem sequer de pedir um subsídio nem para um parafuso de um computador. Havia anos que ganhava dinheiro, havia anos que perdia.

Mas por que não há o Rolls Royce para alugar ou o helicóptero? Porque isto é uma pescadinha de rabo na boca. Se não tem turistas de qualidade, não consegue ter esse tipo de procura. Por outro lado, depois também há muita burocracia, se calhar já houve tentativas para lá pôr um ou dois helicópteros. Não sei qual foi a resposta que lhes deram, mas se calhar disseram que não sei o quê, que complica com as aves e complica com o avião que sai e com o avião que entra, porque isto é o país dos burocratas. Estamos de tal maneira embrenhados em burocracia, mesmo que alguém tenha a iniciativa, seja um inovador, esbarra numa série de problemas gravíssimos e não se consegue avançar.

Quando diz que não há turismo de qualidade, a Quinta do Lago tem turismo de qualidade. Sim, mas dou-lhe um exemplo: um grande empresário, dono da Fórmula 1, o Ecclestone, quis comprar uma casa na Quinta do Lago, mas como não podia aterrar na Quinta do Lago, foi-se embora.

O Ayrton Sena aterrou. Está bem, mas se calhar sem autorização. Mas se for pedir uma autorização, se calhar a primeira palavra é não. A primeira palavra que existe em Portugal em qualquer coisa é não. Nós, no Algarve, precisávamos de uma dona de casa. Que olhasse, que parasse os investimentos todos e dissesse assim: ‘Vamos arrumar isto’. E é barato, porque o mais barato é limpar. O mais barato é meter um tapete. O André Jordan dizia, ‘ó menino, vai lá pintar a estrada’. Pintar a estrada era meter três, quatro centímetros de alcatrão, meter os traços brancos no meio da estrada e aquilo parecia tudo bonitinho. Agora quando se vê uma estrada toda remendada, toda cheia de traços, as bermas todas cheias de lixo, que ninguém limpa…

Chegou à Quinta do Lago em 72. Nasci em 1949, em Olhão, mas cheguei à Quinta do Lago em 1972, depois de sair da tropa, para vender lotes de terreno, e saí em 75 e voltei a 10 de junho de 1982, com o André Jordan.

Nessa altura, as estradas eram muito piores, havia mais lixo. Como é que então, na altura, a Quinta do Lago se torna uma espécie de uma ilha de sucesso? Primeiro, havia muito menos trânsito. Segundo, havia menos lixo, menos poluição visual. Ou seja, era mais rústico, então nós vendíamos rusticidade, praticamente, genuidade, éramos genuínos. A estrada podia não ser tão boa como agora é, mas não víamos tanto lixo, não tínhamos tanto trânsito… Nós vendíamos terreno à conta de uma carroça de mula que passava todos os dias e que ia até ao que chamamos hoje a Praia do Gigi. Era um casal, com o seu chapéu preto, a senhora com o seu xaile, e vinha um cãozinho por baixo da carroça. Quando era o pôr-de-sol o cão vinha cá atrás, porque ele vinha era na sombra da carroça. Isto era o que nós vendíamos, o very typical. ‘Vendíamos’ catos, piteiras, não tínhamos dinheiro para paisagismo, para relva, íamos às ribeiras buscar catos e piteiras que colocávamos nas bermas da hoje Avenida André Jordan, na altura era Avenida Tejo. Eu às sete da manhã ia com a minha escola de samba, como os gajos diziam, que eram quase todos coloridos, íamos para as ribeiras apanhar catos, piteiras e aquela coisa toda, que era o nosso paisagismo.

Em 73/74 abre o Pónei onde aparecem figuras como o Paul McCartney. Sim, o Paul McCartney esteve lá sentadinho com o Cliff Richards e com a Linda McCartney, e como não havia mesa livre – nunca na minha vida mandei levantar alguém só porque chegou uma figura mais importante do que qualquer meu cliente – eles sentaram-se nos dois degraus que havia ao pé do bar, pediu uma garrafa de champanhe, eu não tinha Dom Pérignon, lá fui pedir ao Manuel da Silva, que era o diretor do restaurante, que me desenrascou uma Dom Pérignon, lá vendemos e eles ficaram todos felizes. Ninguém pediu um autógrafo, ninguém chateou, eram outros tempos.

Como surgiram os nomes Trigonometria e T-Clube? Hoje parece que é fácil arranjar um nome para um espaço, mas não é. Não queria nomes estrangeiros, não queria nomes com o meu nome, Trigo. Um dia estávamos a jantar no Hermitage, eu, o Pedro Leitão, o Frank Thomas, que era o dono do Club of Clubs e daquela revista Members, a Malu Fuster-Pereira, que era assistente e trabalhava um bocado com o Pedro Leitão. E pensava, que nomes é que vamos pôr? E eu conheci o Frank Thomas dos conhecimentos do Regines, e tinha-o trazido precisamente para lhe mostrar a Quinta do Lago. Durante o jantar, o Frank Thomas sugere Trigonometria! E assim ficou. Depois o Pedro Leitão avançou que a outra casa tinha que se chamar T-Clube.

Como entra na noite brasileira, nomeadamente no Regine’s, onde estava o Manecas Moceleck. O Manecas foi antes de mim, eu substitui-o, entre aspas. Não é bem substituir.

meu primeiro emprego foi no Hippopotamus, em São Paulo, com o Ricardo Amaral. Entretanto, saí.

Mas como chegou ao Hippopotamus, se só tinha explorado o Pónei na Quinta do Lago com a Anica Duarte Silva? Sim, mas passados três ou quatro meses do André ir para o Brasil eu também fui. Já lá estava o Pedro Leitão, que era famoso no Brasil, e um dia ligou-me e disse-me: ‘Tenho um convite para uma festa no Guarujá, do melhor decorador de São Paulo. ‘Se o gajo gostar dos teus ‘bonecos’, tu ficas milionário’. Eu tinha feito umas mesas em acrílico que queria comercializar e tinha dito isso ao Pedro Leitão. ‘Vens comigo à festa, que eu não estou para guiar desde o Rio de Janeiro até o Guarujá, são 500 ou 600 quilómetros’. Fica na chamada Baixa de Santos. Na altura, os carros eram os Fuscas, não primavam pelo conforto. Lá fomos, estávamos numa festa que nunca tinha visto na minha vida. Eu era um algarvio, temos que nos posicionar na altura e na época. Com todo o respeito, éramos um bocadinho mais evoluídos que muitos, mas éramos uns algarvios… Foi uma loucura de festa, a orquestra tocava num palco que girava, nunca tinha visto nada daquilo, e, de repente, aparece o André [Jordan] e diz-me: ‘Menino, o que você está fazendo aqui?’ ‘E você, o que faz aqui?’ No meio desta conversa, do que faz aqui, o que deixa de fazer aqui, aparece o Ricardo Amaral e volta-se para o André e diz: ‘Oh Andrézinho, agora que vieram estes portugas, não me arranjas um diretor para o Hippopotamus? O André virou-se para mim e disse-lhe: ‘Está aqui, é este. Ficas com este, está garantido’. E assim foi, eu fui para diretor do Hippopotamus, ainda me vendi caro e tal, na altura, porque dizia que queria fazer os meus móveis e o caraças, o gajo abriu o cordão à bolsa. Deu-me um automóvel zero quilómetros, uma ‘penthousinha’, com dois quartinhos, sala, não sei o quê, um jardim todo à volta. Um bom salário para a época, e eu a fingir que ainda estava a pensar na fábrica, mas claro que aceitei.

Era frequentada por quem? Pela nata da nata. E aquilo até nem era grande, era do tamanho da minha pista de dança do T-Clube do Algarve, do tamanho do meu bar com o restaurante, não havia lá jardins, não havia nada, o restaurante até era mais pequeno. E eu na minha conversa, disse-lhe: ‘Ricardo, eu fico, mas se eu fizer novos projetos, você dá-me 20% das minhas ideias’. ‘Com certeza’, respondeu-me no seu jeito brasileiro, e eu com o meu jeito também português, nunca pedi para assinar porra nenhuma. Até que chegou uma altura em estava na moda o Saturday Night Fever e aquela coisa toda e nós tínhamos até matinés com professores para ensinar as senhoras a dançar à Travolta e aquela coisa toda. ‘E eu disse, ‘Ricardo, tu precisas de fazer uma discoteca à séria’. Enquanto, estávamos a conversar, aparece uma figura a dizer que era o dono ou diretor do Iguatemi Shopping. ‘Epá, a gente tem lá os espaços do cinema, os cinemas não estão a dar porra nenhuma, porquê é que vocês não fazem lá uma discoteca? E eu disse, ao Ricardo para me deixar fazer a discoteca. O espaço tinha seis a sete metros de pé direito, um quadradão enorme… O Manecas Moceleck tinha feito uma discoteca no Alvor, o Papagaio. Eu agarrei na imagem do papagaio e disse assim: temos o Hippopotamus, vamos fazer o Papagaio, e vamos fazer um piano bar, nessa época havia muito a moda do Beckgammon (Gamão). Em São Paulo, jogava-se aos dólares, mas à séria, havia mulheres a jogar um milhão de dólares no Beckgammon. Aquilo era uma loucura. E fizemos o Papagaio, além do Hippopotamus, e criámos uma etiqueta de roupa que era a Animals. Disse ao Ricardo que estava na altura de fazermos as contas dos 20%. Como bom brasileiro, o Ricardo virou-se para mim e disse que não se lembrava nada disso. Eu disse boa tarde, boa noite e entreguei as chaves. Eu tinha alugado uma casinha, com o rés do chão e o primeiro andar, com jardim, e começou a ir a malta. O pessoal, às sete da tarde, em vez de se ir enfiar no trânsito passava por lá e foram pedindo whiskys, vodkas, cajus e por aí fora. Como ao lado da casa havia um supermercado de um português que fazia pão 24 horas, lá arranjei uns tabuleiros com pão, queijo, chouriços, umas garrafas de álcool, e tinha um pote onde a malta punha o dinheiro que queria.

Mas aquilo era a sua casa? Era a minha casa, onde vivia. Às tantas começaram a ser muitos e eu comecei a dar a chave da casa, para não me chatearem. Aquilo começa a ser um sucesso enorme e era o Friends. Eu nunca dei nome àquilo, aquilo nunca teve nome.

Se a casa tinha dois andares, calculo que vivesse na parte de cima. Era onde vivia, mas entretanto, como aquilo tinha três quartos lá em cima, acabei por ficar num quarto só, e decorei uma das salas com papel de jornal, preto e branco, e umas almofadas pretas e brancas, e noutra fiz umas paredes de jeans. A malta ia para ali ver televisão e beber, e não sei o quê. Foi um sucesso tremendo, ao ponto de aparecer lá o Bope, era a polícia tipo a PIDE lá da terra. Porque uma amante lá do chefe do Bope frequentava a casa, eu não a fazia a mínima ideia, mas tudo acabou bem, porque eu conhecia-o lá do Hippopotamus. Até que um belo dia me liga o Manecas Moceleck, que estava no Regine’s do Rio de Janeiro e de Salvador, ainda não havia a de São Paulo. Eu não tinha muita confiança com o Manecas, tinha ido uma ou duas vezes ao Stones e tive alguns problemas para entrar, eu era algarvio, não era um gajo de Lisboa, ele não me conhecia de lado nenhum, apesar de ser de famílias de São Brás. Mas eu sempre arranjava um amigo que me levava ao Stones, que era o máximo de Lisboa, naquela altura. Entretanto, houve o 25 de Abril, o Manecas foi para Paris, e aí a Regine contratou-o para o Rio de Janeiro e Salvador. Voltando ao telefonema do Manecas, ele contou-me que a Regine’s lhe tinha ligado a indicar-lhe o meu nome para ser eu o responsável da abertura da Regine’s em São Paulo. Ele perguntou-se se me importava de ir ao Rio de Janeiro, ao que lhe disse que sim. Se quisessem falar comigo, que fossem a São Paulo. Encontrámos-nos, a Régine, o Manecas e o marido da Regine, que era o Roger Sucrué. Estávamos no almoço, quando a Regine recebeu uma chamada de Salvador da Bahia, tinham fechado o Régine de Salvador da Bahia, porque a miúda que lá estava, a Alicia Galeza, tinha ‘barrado’ o juizado de menores de entrar na discoteca – o juizado de menores no Brasil é pior que as Finanças, fecharam logo a discoteca. Quem é que era o governador na altura? O grande António Carlos Magalhães. Eu por acaso conhecia a filha, e consegui chegar à fala com ela. Arrancámos para Salvador, o senhor governador lá nos recebeu, lá fez umas chamadas até que disseram que a discoteca seria reaberta mas a mulher tinha que ser despedida. A Regine olhou para mim, e diz-me, ficas cá, e eu sem perguntar quanto é que ia ganhar, fiquei hospedado no hotel Meridien, em Salvador, sem roupa, sem nada. No outro dia de manhã, fui falar com o diretor do hotel, porque aquilo era uma discoteca dentro do hotel. Lá expliquei a minha situação, dizendo que tinha que ir a São Paulo buscar roupa, além de que tinha o ‘bar’ em minha casa a funcionar. Tinha lá uma namorada que também tomava conta do bar e acabei por lhe oferecer, ‘e fui para Salvador. Ia comendo, bebendo, lavavam-me a roupa, tudo de borla, os empregados cantavam ‘é uma casa portuguesa, com certeza’. Fiquei com 5 mil dólares de ordenado, que era uma barbaridade de dinheiro, e a viver no hotel de borla.

Isso em que ano? Em final de 76. Entretanto, há um problema no Rio, pois uma miúda saiu do Regine’s e foi para casa de uns amigos e morreu com uma overdose. Eles metem-na num carro, deixam-na na Pedra da Gávea, e o corpo apareceu no dia seguinte numa das praias. Primeira página de todos os jornais, ‘Droga no Regine’s’. O Manecas Moceleck disse à Regine que tinha de ir tratar da vista a Barcelona e apanhou o avião. Como o Manecas nunca mais aparecia, a Regine liga-me, lixada comigo, e eu expliquei-lhe que não sabia de nada. A Regine disse-me que uns amigos portugueses lhe tinham dito que o Manecas ia abrir uma discoteca em Lisboa, que era o Bananas. Eu não sabia de nada. E foi nesse dia que ela me disse para deixar Salvador e ir para o Rio de Janeiro, onde fiquei como diretor da operação toda. Entretanto, por causa da miúda que morreu, os Regine’s ficaram vazios. Capas de jornal a falar de droga não ajudava muito, embora todos soubessem que só havia dois tipos de clientes, os que cheiravam e os que não cheiravam. Nessa altura, os que não cheiravam, não queriam lá ir para não serem confundidos, os que cheiravam também não queriam ser vistos [risos]. De maneira que a casa ficou vazia, e eu como diretor daquilo. Só Salvador é que se salvava, pois é tipo Algarve, é sazonal. O Rio de Janeiro era um drama. A Regine chamou-me a Paris, e passou-me a mensagem: ‘Silêncio total, não há marketing, zero. As pessoas têm que nos esquecer’. A Regine era uma mulher inteligentíssima. ‘Vamos ficar tranquilos até que se esqueçam’, disse-me.

Mas continuavam abertos? Sim, praticamente vazios. Enfim, as coisas foram devagarinho. Passado seis meses, fui a Paris ter com ela e disse-lhe que estava na hora. Comuniquei-lhe que ia arranjar uma relações públicas, que era a Danusa Leão, irmã da Nara Leão, que era uma mulher muito conceituada na sociedade, convivia socialmente com a nata ali dos Jorginhos Guingles, aquela malta toda do Rio de Janeiro. Propus à Regine fazer um grande baile no Canecão. Ela disse que eu estava maluco, mas expliquei-lhe que o relançamento do Regine tinha de ser ali. Falei com o Mário Prioli, que era o dono do Canecão, e montámos o Circo Fantástico. Contratei o cenógrafo da Globo, o Mário Monteiro, que era o mais importante. Era um gajo engraçadíssimo. Ele estava duas ou três horas sem falar. A mulher punha-se ao lado dele, acendia o cigarro e punha-o na boca dele, ele dava umas passas e ela voltava a pôr-lhe o cigarro na boa. Era uma figura do caraças. Já por volta das quatro da manhã, agarra num papel e num lápis e desenha o cenário para a feta do Circo Fantástico. Então o que era? Era forrar o Canecão de tecido, em pele de zebra, meter uma jaula no meio do Canecão, tínhamos a orquestra lá ao fundo e depois no meio uma jaula. Essa jaula era alta. Imagina com um camarim por baixo. Então a ideia era o quê? Meter umas mulheres que estavam vestidas de panteras, outras de girafas. Animais. De circo. Uma delas foi a Roberta Close. Foi quando a gente a conheceu e a lançámos. E aquilo realmente foi um sucesso. A Regine como tinha os seus contactos, levava o Alain Delon, o Omar Sharif, a nata de Hollywood. Nós fazíamos noites no Regine’s e ao mesmo tempo levávamos para o Circo Fantástico. Além disso, tínhamos o Paul Bocuse no último andar. O hotel Meridien pertencia à Air France, então havia facilidade de meter as ‘vedetas’ no Concorde e hospedá-los no hotel. O restaurante do Paul Bocuse era, no fundo, um franchising. Quando lançámos o Circo Fantástico no Carnaval, foi muita gente convidada pela Regine, mas não me lembro dos nomes. Já na inauguração do Regine’s de São Paulo foi o Omar Sharif, o Alain Delon, a Catherine Deneuve, o Charles Aznavour, que cantou com orquestra. Mas a recuperação do Regine’s do Rio de Janeiro ganhou com uma proposta da Danuso que começou a fazer festas ao domingo. ‘Como eles não têm empregada ao domingo, nós fazemos um buffet, e a seguir pomo-los a dançar’. E assim foi.

Quem era clientela do Regine’s? Havia pessoal que ia de Nova Iorque, de Paris, de Itália, os italianos adoravam, porque podiam cheirar à vontade – em qualquer festa, mesmo fora de discotecas, havia bandejas a passar pelos convidados – nunca experimentei, um vez ‘tomei’ um charro, fiquei zonzo durante um dia, como uma fome do caraças, disse, nunca mais. Em relação à coca, ia às festas, em apartamentos privados, tinha uns gajos à porta com a bandeja e eu dizia sempre: ‘já estou aviado’, e passava assim.

Regressemos a Portugal. Abriu o T-Clube, mas antes fez a Trigonometria, que era para os mais jovens? A Trigonometria foi um sucesso. Desde Francisco Balsemão, a todos, toda a sociedade entrou na Trigonometria. E toda a sociedade pagou 500 escudos à porta. Não havia porta de VIPs, não havia nada. Havia uma porta de roleta, o meu pai se quisesse entrar, tinha que entrar pela porta do cavalo ou tinha de pagar os 500 paus. Toda a gente pagava, milionário ou não milionário. Com Rolls-Royce à porta ou sem Rolls-Royce à porta, naquele primeiro ano, toda a gente pagou. E lembro-me que eram os Uvas, era toda aquela sociedade, o PQP, os amigos, aquela gente toda, que estavam até na Quinta da Baleia, mais do que na Quinta do Lago. Essas famílias viviam todas na Quinta da Balaia, que era o ‘chiquê’ da altura. Nós, na quinta do Lago, não tínhamos condições de vender lotes, praticamente. Andávamos a vender lotes a seis mil contos e ninguém comprava. São 300 mil euros agora. Ou menos. Agora são vendidos por três milhões.

A festa de champanhe do T-Clube tornou-se uma referência e todos queriam um convite… Vamos lá ver. Quando vivi no Brasil, naqueles oito anos, conheci também a nata portuguesa que regressou na altura a Portugal. Os Ricardo Salgados, os Tozé Reimão Nogueira, toda essa malta… o Pedro Leitão. A primeira decoração do T-Clube tem a assinatura do Pedro Leitão. A arquitetura foi minha, mas a assinatura de decoração foi do Pedro Leitão. Mas toda aquela malta que tinha ido para o Brasil, depois do 25 de Abril de 1974, e que regressou, sabia da minha vivência no Brasil e de todo o meu sucesso. De maneira que foi abrir e ter esses clientes como garantia, que deram garantia aos outros. Aqueles nomes sonantes, no fundo, garantiram o sucesso do T. O André Jordan, logicamente. Depois também foi a época áurea, vamos dizer, da política, da entrada na Comunidade Europeia. O país desabrochou.

No T-Clube colocava as pessoas na discoteca na primeira fila, na segunda, na terceira… Isso foi sempre um segredo nosso. Havia a Sibéria e o Oásis. Era uma técnica minha que já vinha do Regine’s. O chefe de sala se via alguém, e eles às vezes não conheciam as pessoas, eu conhecia, mais ou menos, e dizia Sibéria ou Oásis. Sibéria era nas zonas mais ‘escondidas’, Oásis era na área mais visível. Nunca gostei da palavra VIP na minha vida, acho que até se banalizou demais, então ainda pior. Mas já na altura eu não gostava da palavra VIP, Very Important Person. Um gajo pode ser uma fraca figura, com todo o respeito, e aliás, a Regin ensinou-me isso, mas podes ser um gajo civilizadíssimo. E vale mais do que um gajo cheio de dinheiro, mas que é um personagem detestável. Então o slogan era esse. Mas nós ainda tínhamos um truque maior, que as pessoas nunca se aperceberam. Quando se vai a uma discoteca e se diz, ‘Epá, fui lá hoje, conhecia toda a gente’, mas é impossível conhecer mil pessoas. Por conseguinte, o nosso truque era muito juntar os núcleos de Lisboa, os núcleos do Porto, os núcleos alentejanos. E depois havia os outros. Por conseguinte, quando entrava no T-Clube, no Algarve, havia a mesa garantida do Francisco Balsemão e do André Gonçalves Pereira, que era aquela segunda à entrada quando se vai para o Jardim. Aqueles pequenos grandes truques do cartão em cima da mesa, está reservado, está reservado, está reservado, servia para nós gerirmos o ambiente da casa. É preciso perceber-se como se faz uma casa. Hoje os putos são o quê? Desculpa lá, mas a maior parte dos donos das casas percebem alguma coisa? Foram antigos relações públicas, abrem uma casa, tudo bem, têm ali um bar, têm ali uma casa de banho, está porreiro, deixa andar. Depois admiram-se que dure seis, cinco, quatro ou três anos. Quando não tem uma base, e não se tem a coragem de segurar uma porta, não duras 25 ou 30 anos como durou um T-Clube ou um Stones. Depois há fenómenos diferentes como o Kiss, que está numa rua que tem milhares de turistas, estejam eles de chinelos ou de fato de banho, também sobrevive há 35, 40 anos. E chapeau ao meu amigo Liberto Mealha. Quando se cria um espírito Stones, um espírito T-Club, é preciso ser muito rígido, e tem que ser destemido. ‘Epá, está ali um gajo que vai gastar 10 mil euros’, não me interessa. O gajo vai-me destruir um milhão, não bate a bota com a perdigota. Não vou sentar aquele indivíduo ao lado de um Francisco Balsamão, por exemplo. É que com um cliente desses nunca mais vai cá vir na vida, nem a Tita. Por conseguinte, prefiro ter cá os gajos a gastar todos os meses uns ‘peanutzinhos’, como diz o JJ, do que ter alguém que vai gastar 10 mil hoje.

Ainda não explicou o significado da festa do champanhe. Eu queria fazer uma festa de verão, em que oferecia o champanhe, e pensei que o domingo seria o melhor dia. A um domingo a casa não estava super lotada, e quem queria ir à festa do champanhe gastava dinheiro na sexta e no sábado, porque ia para passar o fim de semana ou já estava de férias, uns porque queriam ser vistos, outros porque ainda não tinham recebido o convite, iam lá gastar o dinheiro. Ou seja, eu com o aumento da minha receita de sexta e sábado, e nos dias antecedentes, pagava a festa do champanhe de domingo. Por outro lado, até podia convidar mais pessoas porque a maior parte delas não podia ir porque era domingo, já que trabalhava na segunda-feira em Lisboa ou noutra cidade. Fazia um show-off do caraças, pois em vez de convidar 500 pessoas, convidava mil, 500 apareciam com as respetivas mulheres e os outros 500 que não podiam vir ficavam todos inchados porque tinham recebido o convite para a festa de champanhe.

Foi criticado por alguns que diziam que dava prioridade aos portugueses e desprezava os estrangeiros, não dando um ar mais cosmopolita à casa. Nunca, nunca. Mas há uma coisa que posso dizer, na altura, os estrangeiros eram minoritários, a Quinta do Lago tinha meia dúzia de vivendas, só depois é que cresceu. Por outro lado, o estrangeiro da Quinta do Lago quando chegava a julho e agosto praticamente ia-se embora. Além disso, os britânicos gostam de estar em maioria, não gostam de estar em minoria e como o T-Clube tinha uma maioria portuguesa, gente bonita, que se impunha fisicamente, mulheres lindíssimas, bem vestidas, tudo de marca, era a nata de Portugal, aquilo era a seleção nacional porque era o melhor de Lisboa, era o melhor do Porto, era o melhor de Beja, era o melhor de Évora era o melhor de Guimarães, era o melhor de Braga. Até vou dizer uma barbaridade, era bem melhor do que o T-Clube de Lisboa, porque na Quinta do Lago era a seleção nacional. No Algarve tinha clientes holandeses, alemães, alguns espanhóis, belgas, ingleses praticamente não tinha. Contratei uma relações públicas inglesas, fiz tudo o que estava ao meu alcance. Tive ali um cliquezinho – mas apanhei a crise financeira de 2008 – quando fiz com o Manota [atual marido de Paula Amorim e responsável pelos restaurantes JNcQUO] o restaurante de sushi. Então aí apareceram os estrangeiros porque os portugueses não sabiam o que era sushi e não iam.

Qual a razão para ter vendido o T-Clube? Nos últimos anos lutámos contra as discotecas que abriam um mês e que desertificaram as nossas. Repare. Tinha um cliente que ia para o Algarve 10 dias, já havia poucos, mas vamos dizer 15 dias. Não saía sete dias na semana. Quanto muito saía três vezes. Desses três, por vezes, iam às outras discotecas. Chegavam-se ao pé de mim e diziam: ‘Zé Manel, fui ao Bliss e aquilo é uma desgraça’. Sabe o que lhe dizia? Pois, eu perdi 33% do mercado porque na noite em que tu lá foste não vieste aqui e eu perdi 33%. 33% do mercado é o meu lucro, agora o meu lucro foi para o brejo e eu como é que pago os funcionários e o resto? As coisas têm que ser explicadas, é que muitas vezes a malta não percebe porque é que um tipo chama os nomes pelos bois. O Luís Evaristo, com quem fiz as pazes, um dia voltou-se para mim e disse que ia abrir a Casa do Castelo – aquilo tinha-me sido oferecido pela União de Bancos Suíços (UBS). Só que eu fui visitar o espaço, e disse: ‘Mas como é que vou fazer um clube aqui, com uma escada em meia curva, uns quartinhos…’ Disse que tinha de deitar abaixo várias coisas, aquilo não batia a bota com a perdigota. Eles disseram que não, que queriam era valorizar o terreno para vender. E o Luís aceitou e fez bem. O Luís, na primeira conversa que teve comigo, nunca mais me esqueço, na lareira do T-Clube, voltou-se para mim e disse-me assim: ‘Eu vou abrir também o ano inteiro, você é o meu guru é um gajo do caraças’ e eu só me zanguei com ele quando ele me mentiu, porque ele fez a festa de abertura com a minha lista de convidados – comprou a alguém – num sábado, e a minha festa de champanhe era num domingo. Aquilo não lhe correu bem no primeiro ano, e ele já em fim de estação, foi lá, apresentar-se. Combinámos fazer um pacto, eu antecipava ou adiantava a minha festa do champanhe e ele fazia a festa de abertura num fim de semana diferente. Expliquei-lhe as razões para se fazer a festa a um domingo, pois obrigava muita gente a ir passar o fim de semana, logo iriam à discoteca à sexta e ao sábado, gastando dinheiro nos hotéis, nos restaurantes, tínhamos todos a ganhar com isso. Como no ano seguinte ele fez a abertura no mesmo fim de semana da festa do champanhe, cortei relações com ele.

Por que razão não vendeu o T-Clube ao grupo de Paula Amorim, quando o negócio chegou a estar quase fechado? Por uma razão muito simples, eu tinha o negócio fechado, fizemos todas as diligências, seguranças sociais, bancos, tudo o que se faz numa due diligence. Negócio fechado, tivemos que mudar ao utilização da Trigonometria, que era discoteca-bar para comércio, indústria e serviços. O T-Cclube não consegui mudar para comércio, indústria e serviços porque faltou uma assinatura em 40 ou 50, porque os condóminos tinham todos que assinar. A Paula Amorim aceitou, e disse-me que queria fazer o JNcQUOI restaurante no T-Clube, e a Fashion Clinic na Trigonometria. Tudo acertado, encontrámo-nos em Lisboa. Ecrã gigante, começa-se a ler o contrato, estava tudo lido e mais do que lido, de repente o advogado dela diz que há um pequeno problema, que a doutora Paula não se sente confortável, porque amanhã ou depois quer mudar o JNcQUOI restaurante se calhar para um comércio, e por causa disso vamos tirar aqui um valor. E eu disse, ‘Óh Paula, desculpe lá, estamos a tratar disto há quatro ou cinco meses, foi tudo feito, tudo acertado, você concordou. Não sei qual é a sua dúvida, até disse que era ali que queria fazer o restaurante’. Agarrei na pasta e sai pela porta fora com o meu advogado. O Manota foi atrás de mim até ao elevador. Disse-lhe: Manota, desculpa, sou algarvio, mas não sou árabe. Estava tudo combinado, paciência.

O que aconteceu a seguir? O Paulo China, sempre andou ali a ‘xeretar’. ‘Zé Manel, tu vendes e tu não vendes, e isto e aquilo’, até que me ligou dois ou três dias depois e diz-me: ‘Temos que marcar uma reunião ali na Igreja’, que é a sede de um dos escritórios de advogados. Levei as pastas todas, aquilo estava tudo em dia, chegaram eles todos, entre advogados e financeiros e o Paulo China. Começaram por dizer que estavam interessados, perguntaram quanto era e eu expliquei o que já tinha explicado à Paula Amorim. São 3.600.000, está aqui tudo. A reação deles foi de que precisavam de um mês para estudar, ao que respondi: Se eu que sou analfabeto, não sou financeiro, não sou advogado, mas consigo ver esta pasta em duas horas, vocês também conseguem ver porque são especialistas. Está aí tudo, está a minha vida toda. Pediram-me dez dias, mas assinámos um documento de confidencialidade, e durante dez dias não pude vender a ninguém. Assinámos aquilo e eles saem da reunião e vão vender à Paula Amorim. A Paula disse, ‘não, não, eu é que vou comprar, tenho tudo acertado com o José Manuel Trigo’. Liga-me a seguir o Manota, ao que lhe respondi: ‘Para já, nem posso falar contigo, nem com ninguém, no dia 21 de outubro se eles desistirem dou-te a minha palavra de honra, a tua mulher pode não me conhecer mas tu conheces-me, vendo-te pelo mesmo preço, nem mais um euro, nem menos um euro. Eu tenho palavra’. Eles até me queriam dar mais alguma coisa. No dia 20, os outros mandam-me um email a confirmar a compra. Marcámos escritura em Portimão, e vendi.

Vendeu a um fundo? Não, não vendi a um fundo. Eram três pessoas ligadas a um escritório de advogados e o Paulo China que ficou com uma pequena participação. Desliguei-me depois de assinar. Eu sou assim. O cheque estava visado, depositei-o e ficou fechado o negócio.

Jornal Sol

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