Migrações: a nova febre populista do Ocidente para fechar fronteiras

O 47º Presidente dos Estados Unidos da América prometeu a maior deportação da história. Os 13,4 milhões de migrantes indocumentados no seu país são o alvo principal. Donald Trump quer expulsar, dê por onde der, hispânicos, africanos, árabes e “os piores criminosos do mundo”. O processo já está em curso e centenas de venezuelanos, afegãos, egípcios ou birmaneses foram sumariamente detidos e enviados para sítios como El Salvador, Honduras, Cuba (Guantánamo) ou Jibuti (neste último caso, com o propósito de seguirem depois para o Sudão do Sul). No entanto, como o autor da Arte da Negociação é também um artista da mistificação, já concedeu asilo político a meia centena de agricultores brancos sul-africanos, por estarem a ser alvo de um (falso) “genocídio”, e prepara-se para distribuir os primeiros “cartões dourados”, em que consta a sua própria imagem, a qualquer estrangeiro que aceite pagar cinco milhões de dólares para fixar residência nos EUA. Será que, além de todos os outros males que lhe são atribuídos, o inquilino da Casa Branca também padece de aporofobia, o conceito cunhado por Adela Cortina, filósofa espanhola, para designar a repulsa pelos mais pobres?
De Donald Trump pode esperar-se quase tudo. Por isso mesmo se pode considerar como verosímil a notícia dada pelo Wall Street Journal e pelo Daily Mail de que o Departamento de Segurança Nacional (Ministério da Administração Interna e conhecido pelo acrónimo DHS) estaria a promover um programa de TV intitulado The American que, na prática, funcionaria como um reality show estilo “Jogos da Fome para Imigrantes”, em que diversos concorrentes, ao longo de vários episódios, lutariam pela sua permanência em solo norte-americano. O assunto deu polémica em barda e chegou ao Congresso. Interpelada diretamente pela oposição democrata, a titular do DHS, Kristi Noem, viu-se obrigada a desmentir o que o seu gabinete dissera antes aos jornais. Esse programa não será feito, a Netflix não o irá produzir e Sofia Vergara ou Mila Kunis, atrizes naturalizadas, não o iriam apresentar.
Visao