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O Moedas do costume. Opinião de Pedro Marques Lopes

O Moedas do costume. Opinião de Pedro Marques Lopes

Foi preciso o Presidente da República dizer o óbvio para que Carlos Moedas saísse de debaixo das saias de Montenegro e do próprio Marcelo e viesse dizer alguma coisa sobre a tragédia do Elevador da Glória.

Não o fez como seria normal e aconselhável, ou seja, numa conferência de imprensa onde poderia ser sujeito a um escrutínio que é sempre muito mais profundo do que uma simples entrevista, por muito capaz que seja o entrevistador. Não sendo este um mero ato político ou acontecimento mais ou menos trivial, mas sim a maior tragédia humana na cidade de Lisboa em séculos – com consequências em muitos setores da nossa vida em comunidade – seria mais do que aconselhável que Moedas respondesse de uma forma muito mais abrangente.

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa não quis esclarecer o sucedido, descansar os lisboetas sobre a manutenção dos equipamentos sociais ou mostrar que havia uma liderança forte neste momento de incerteza. Foi apenas o que tem sido desde que foi eleito: um propagandista da sua pessoa e um populista disfarçado.

A tentativa de inventar um herói na pessoa do guarda-freio nada tem que ver com a possível heroicidade do falecido, serve tão somente para tentar fazer um mártir que o próprio Moedas se encarregará de promover.

A instrumentalização de uma pessoa morta é das coisas mais miseráveis que se pode fazer, talvez só suplantada por atacar pessoas que não se podem defender ou atribuir-lhes ações que não se sabe se elas cometeram. Refiro-me, claro está, a Jorge Coelho a quem Carlos Moedas atribuiu ações ou omissões que ninguém sabe se existiram. Nem sei como qualificar isto.

Vou dar de barato que a comoção que pretendeu mostrar no fim da entrevista era real, mas mesmo que o fosse não é o que os lisboetas precisam nesta altura.

A entrevista trouxe uma inovação para a ciência política. Segundo Carlos Moedas só há responsabilidade política se o representante dos cidadãos, vulgo político, cometer uma ação que lhe possa ser diretamente assacada. Ou seja, praticamente nada é da responsabilidade de quem elegemos. Seriam precisos mil livros para compilar os exemplos de aspetos da nossa vida em comum que não têm interferência direta de quem elegemos, mas que são da sua responsabilidade.

O Presidente da República tem uma visão distinta: “Quem está à frente de uma instituição pública está sujeito a um juízo político por aquilo que aconteça de menos bem nessa instituição, mesmo que que sem culpa nenhuma, mesmo que sem intervenção nenhuma”. “Quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável”.

Resumindo, era o que Carlos Moedas pensava quando Fernando Medina era presidente da câmara. Mudou de ideias, mas esqueceu-se de dizer que tinha mudado.

Convém que fique claro: ter responsabilidade política não impõe que alguém se demita quando algo corre mal (desde que não haja violação da lei ou condenação ou afim). Isso é um julgamento pessoal. Em traços largos, deve demitir-se o titular do cargo que pense que a sua continuação do cargo põe em causa ou afeta a credibilidade de uma instituição.

A cereja no topo do bolo da infeliz prestação de Moedas foi ter aproveitado a entrevista para atacar os seus adversários políticos acusando-os de partidarizar a tragédia. Como até os seus apoiantes já perceberam, o presidente da câmara tem uma relação difícil com a verdade. Temos observado isso quando reclama obras que não são suas, quando afirma que as ruas estão limpas, cuidadas e iluminadas, quando diz que ajudou a cidade a lidar com os fenómenos do turismo e da nova imigração – sejamos justos, os unicórnios têm sido muito promovidos.

Quem fez questão de falar de aproveitamentos partidários foi, nem mais nem menos, o primeiro-ministro quando apareceu a dar colinho ao presidente da câmara. Mais, ao convidar Moedas para o Conselho de Ministros não fez mais do que politizar a questão: que diabo foi lá o presidente da câmara fazer que não fosse politizar a questão? Foi lá que Moedas deu o conforto que diz que deu às famílias enlutadas? Houve alguma decisão lá tomada que tivesse que ver com o acidente?

Pedir responsabilidades é aproveitamento político? Se pedir a demissão de alguém é indigno da oposição (e os poucos que pediram nem foram os opositores diretos), que dizer de Moedas que pediu a de Medina?

Esqueçamos por pudor a parte de ter chamado assassinos a opositores políticos.

Sou daqueles que acha que Moedas não se deve demitir por causa desta tragédia, nem ela deve ser o centro da campanha eleitoral – seria péssimo para a cidade se o fosse. É o desastre para Lisboa que tem sido a sua gestão e a forma como tem aproveitado o cargo para mera promoção pessoal que devem ser julgados nas urnas.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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