Ouço muito falar em férias


Como verão está ao rubro, é costume o gozo de férias, para descongestionar a rotina que vem desde o ano anterior. Muitos merecem esse descanso bem merecido, outros pretendem mudar de ares e ver mesmo alguns familiares que na fase da vida ativa têm o tempo mais apertado. Outros há apenas por que gozar férias é, fino, enriquecedor e entusiasmante conhecer o modo de viver de outras gentes que têm uma usança diferente da nossa, bem como outras geografias, daquelas que costumamos ver e sentirOra acontece que a mim, as férias já nada me dizem, pois nos valores da minha vida, apenas constam três valias essenciais, saúde, paz e sossego.As primeiras duas horas da manhã depois de sair de casa têm por norma o mesmo hábito, que só é contrariado por caso de força maior anda por aqui. Sento-me Á mesa de um bar de uma média superfície, tomo e café, dou uma olhadela pela clientela que entra e sai. Onde por norma se arranjam uns dedos de conversa com quem me encontro com certa regularidade, ou quem alguém que ocasionalmente ali passou vindo de outras paragens onde o diálogo se alonga indo do estado de saúde à evolução de vida familiar, nomeadamente da descendência, pois os que são da minha geração já quase todos têm netos e aí ficamos a par do destino que lhes foi traçado, uma vez que as distâncias afastaram de nós os contactos mais regulares.Quando a situação de conversa não surge, há sempre um guardanapo de papel, onde minuto qualquer tema, que habitualmente é poesia onde com frequência destaco a beleza madura que por ali vejo passar e que me faz avivar a memória dos meus tempos de rapaz; não dou muito a voz à elegância, pois sempre gostei de apreciar curvas e os espaços femininos.Entretanto agenda-se o almoço, quase sempre para fora do meu concelho para variar na alimentação e comer o que melhor me apetece no momento. Ocasionalmente aproveito um evento para o efeito, mas tem que me proporcionar bons acessos e estacionamento próximo, pois as pernas só já me permitem reduzidas distâncias.
Valorizo nesta parte da culinária pratos que que por aqui se afamaram, como é o caso da posta dos pobres na Meda, o frango da Guia em Pinhel, da canja de cornos do Soito, das feijocas de Manteigas, o arroz de carqueja de Gouveia, a posta de vitela jarmelista na Guarda, as trutas dos Fóios, os peixinhos da Ponte de Juncais e a marrã, quando fico por mais perto. Como guloseima, levam-me ao pecado as sardinhas doces de Trancoso.
Como estamos numa época em que as temperaturas andam altas, habitualmente da parte da tarde regresso a casa, ponho a limpo o que trago embrulhado nos já mencionados guardanapos de papel e vou dormir uma sesta, sobre efeito do ar condicionado. Pode não ser muito saudável, só que a satisfação que me causa, leva-me a perdoar o possível mal que me possa causar.Esporadicamente faço umas viagens mais largas, como é o caso de idas a Coimbra por indicação médica, o que me força a uma paragem obrigatória em Penacova, quer seja para a lampreia, se for na época, para as enguias ou até para o leitão coisas que ali aprecio. Na minha rota também aparece Braga onde valorizo as suas variantes na confecção do bacalhau.É assim que o tempo passa por mim e que me vou mantendo sossegado sob o peso de doze arrobas, repartidas em duas parcelas, cinco em anos que contam na idade e mais sete que a balança me indica, quando verifico o peso.Aqui chegados, penso que compreendem a razão por que eu não planeio férias. Também não invejo quem as goza, pois entendo que cada qual se deve sentir a seu gosto dentro dos parâmetros que idealiza.E assim vou vivendo, pois a solidão não me preocupa nem me causa enxeco, até costumo dizer que aparelho sempre o burro à minha vontade, enquanto a debilidade das minhas forças me permitirem a mobilidade que eu pretendo.Aqui vos deixo a minha vida quase toda ao léu! Espero voltar no último dia deste mês. Até lá tudo de bom e haja saúde para todos nós.
Jornal A Guarda