Tarifas arriscam penalizar mais sector da saúde nos EUA do que na Europa, defende HCP
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Após novo recorde de exportações da fileira da saúde portuguesa em 2024, quando bateram os 4 mil milhões de euros à boleia de uma forte dinâmica nos EUA, o diretor executivo do Health Cluster Portugal (HCP) alerta que barreiras à entrada só prejudicam as empresas – e, na questão da saúde, os EUA poderão sofrer o maior impacto.
Portugal voltou a bater recordes nas exportações ligadas ao sector da saúde em 2024, contando com um forte contributo do mercado norte-americano, responsável por quase um terço do total. Estes números são conhecidos numa altura em que a possibilidade de uma guerra comercial entre os EUA e a UE é cada vez mais forte, uma estratégia que a associação do sector em Portugal considera que será mais prejudicial para as empresas do lado de lá do Atlântico.
A fileira da saúde chegou aos 4.036 mil milhões de euros em 2024, um aumento de 21,7% em termos homólogos, que coloca o sector a representar já 5,1% do total exportado pela economia portuguesa no ano passado. Para este resultado, tiveram uma importância capital as encomendas vindas dos EUA, para onde foram 29,6% do total exportado pelo sector.
Apesar da importância do mercado norte-americano nas exportações portuguesas no ramo da saúde, a forte probabilidade de mais tarifas vindas de cada um dos blocos, visando o outro, é cada vez maior, dada a tensão crescente e os anúncios recentes de barreiras à entrada em ambos os mercados. Ainda assim, Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal (HCP), antecipa efeitos mais prejudiciais para os EUA.
“Por paradoxo que possa parecer, uma eventual introdução de taxas alfandegárias poderá desencadear desequilíbrios e movimentos protecionistas, cujos efeitos poderão, no final do dia, ser mais negativos para as empresas que se pretende proteger, ou seja, as americanas e o seu ecossistema”, afirma ao JE o representante do sector.
A saúde é, a nível empresarial, “uma das realidades mais globalizadas e a indústria farmacêutica é disso um bom exemplo”, argumenta, apontando à “forte alteração, ocorrida durante as últimas duas décadas, na partilha do top 10 mundial entre empresas americanas e europeias, com esmagadora vantagem para as primeiras”. Neste contexto, a introdução de barreiras ao comércio livre constitui um entrave considerável, mas que ameaça mais a produção norte-americana.
Olhando para o bolo total das exportações nacionais neste ramo, as preparações farmacêuticas registam o valor mais elevado, chegando a 82,8%, o que equivale a mais de 3 mil milhões de euros. De seguida, surgem os dispositivos médicos, que alcançaram um volume total na ordem dos 500 milhões de euros, seguidos dos produtos farmacêuticos de base.
Em termos de mercados, e para lá dos EUA, a Alemanha registou uma quota de 27,5%, “país onde este aumento, em termos homólogos, foi mais significativo”, detalha o comunicado do HCP. A fechar o top 5 estão Espanha, França e Bélgica, acrescenta a associação que representa o sector, cujo volume de negócios anual superou já os 40 mil milhões de euros e um valor acrescentado bruto de cerca de 14 mil milhões.
Para Joaquim Cunha, este “crescimento consistente e contínuo das exportações reflete a aposta na internacionalização e a capacidade de Portugal enquanto fornecedor de produtos inovadores e de qualidade”. O sector “tem-se demonstrado bastante dinâmico, mesmo num contexto global cada vez mais desafiador, e continua a afirmar-se como motor de desenvolvimento económico e social do país”, remata.
jornaleconomico