Ursula von der Leyen chega a Kiev com 3,5 mil milhões na mala
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A nona visita de Ursula von der Leyen a Kiev desde o início da invasão russa em 23 de fevereiro de 2022 foi acompanhada por um mala de dinheiro de mais 3,5 mil milhões de euros – numa altura em que a ajuda de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, foi colocado em causa pela Casa Branca. Mas este pacote de ajuda financeira da União Europeia serve para injetar liquidez adicional ao orçamento da Ucrânia e facilitar a compra de equipamento militar. Os 3,5 mil milhões de euros são um adiantamento de um fundo de assistência de 50 mil milhões de euros que a União Europeia criou no início de 2024.
Embora Bruxelas tenha conseguido cobrir as necessidades financeiras da Ucrânia durante todo o ano, o fornecimento de armamento após o verão continua incerto. “Temos de acelerar a entrega imediata de armas e munições. E este será o cerne do nosso trabalho nas próximas semanas”, disse von der Leyen à comunicação social. “Acreditamos numa Ucrânia livre e soberana no seu caminho para a União Europeia”.
Von der Leyen deverá também anunciar uma iniciativa para integrar a Ucrânia e a Moldova no mercado de eletricidade do bloco até ao final do ano – algo que já está antecipadamente decidido.
A presidente da Comissão está acompanhada pelo seu Colégio de Comissários Europeus, que se reunirá com os seus homólogos do governo ucraniano para aprofundar os laços bilaterais.
Outros líderes ocidentais, como o presidente do Conselho Europeu, António Costa, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, também estão na capital ucraniana para assinalar o aniversário solene. Reunir-se-ão com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para reafirmar a sua solidariedade e apoio.
As capitais europeias estão a assistir com nervosismo às tentativas de Donald Trump de lançar um processo de paz entre a Ucrânia e a Rússia para o qual nem a Europa nem a Ucrânia foram chamados. A tensão está a aumentar depois de Trump ter atacado Zelensky, chamando-lhe “ditador sem eleições” e atribuindo-lhe a culpa da invasão. Os comentários, que se alinham com os argumentos do Kremlin, provocaram indignação na Europa e lançaram sérias dúvidas sobre a capacidade ou a vontade de Trump de moderar as conversações de paz.
“Há anos que vejo este homem [Zelensky], enquanto as suas cidades são destruídas, o seu povo é morto, os soldados dizimados”, disse Trump numa entrevista na semana passada. “Há anos que o observo e vejo-o a negociar sem cartas. Ele não tem cartas, e estamos fartos disso. Ficamos fartos. E eu fartei-me”.
Zelensky disse entretanto que estaria disposto a abandonar o cargo de presidente se isso significasse a paz e a adesão à NATO para o seu país. “Estou concentrado na segurança da Ucrânia hoje, não daqui a 20 anos, e não tenho intenção de ficar no poder durante uma década. Este é o meu foco e a minha maior aspiração”, disse numa conferência de imprensa.
Recorde-se que António Costa será o anfitrião de uma cimeira de emergência dos 27 líderes da UE a 6 de março. Durante essa cimeira, von der Leyen tenciona apresentar um “plano global” para aumentar a produção de armas e as capacidades de defesa em todo o bloco, o que também poderia “beneficiar” a Ucrânia, disse.
Recorde-se que a União Europeia decidiu na passada semana impor uma nova ronda de sanções contra a Rússia, apesar da pressão de Donald Trump para a realização de negociações sobre o destino da Ucrânia. A decisão foi deliberadamente programado para chegar na véspera do terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia. É o 16.º pacote de restrições desde fevereiro de 2022.
As novas sanções introduzem uma proibição das importações de alumínio primário russo, ideia que foi debatida no passado, mas nunca aprovada devido à reticência de alguns Estados-membros, preocupados com o impacto económico da medida nos seus mercados internos. O alumínio bruto russo representa cerca de 6% das importações daquele da UE, uma percentagem que tem vindo a diminuir nos últimos anos à medida que os fabricantes europeus se afastam dos fornecedores russos. A UE já tinha proibido certos produtos de alumínio provenientes da Rússia, como cabos, tubos e canos, embora estes representassem apenas uma fração das compras. Agora, a proibição é alargada ao alumínio primário, que é vendido sob a forma de lingotes, placas e biletes e que representa a maior parte do valor importado, detalha a mesma fonte.
Para além do metal bruto, o último pacote de sanções alarga a lista negra contra os petroleiros pertencentes à ‘frota sombra’ da Rússia, que o Kremlin utilizou para contornar as restrições ocidentais ao comércio de petróleo e manter uma fonte de receitas que é crucial para financiar a guerra contra a Ucrânia. E que, refira-se, apesar de ser denominada ‘sombria’, é um ‘comboio’ que todos conhecem. A frota é constituída por navios velhos e sem seguro, suspeitos de práticas enganosas, incluindo a transmissão de dados falsificados, a desativação dos seus sistemas para se tornarem invisíveis e a realização de múltiplas transferências de navio para navio para ocultar a origem dos seus barris de petróleo.
Kiev realiza esta segunda-feira uma cimeira internacional para assinalar os três anos da invasão russa, que conta com a presença de 13 líderes estrangeiros na capital ucraniana, enquanto outros 24 participam remotamente. A cimeira serve para discutir novas medidas para pôr fim à guerra e abordar possíveis garantias de segurança para a Ucrânia quando o conflito terminar.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, é um dos líderes que confirmaram a sua presença em Kiev na segunda-feira, segundo a agência espanhola EFE. Zelensky anunciou também que vai realizar uma reunião com os líderes dos países nórdicos e bálticos.
O presidente ucraniano indicou ainda estar a trabalhar na organização de outra cimeira numa capital europeia não especificada para discutir garantias de segurança que possam ser oferecidas à Ucrânia para evitar um novo ataque russo quando a guerra terminar. Mas talvez a cimeira de 6 de março, já marcada por António Costa, seja suficiente.
jornaleconomico