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Variações de Julho – “Grupo dos Cinco”

Variações de Julho – “Grupo dos Cinco”

“Cinco compositores russos que marcaram a história da música russa no século XIX”

Nas “Variações” do mês anterior, apresentei o Grupo dos Seis. Um grupo de 6 compositores franceses, defensores da composição futurista francesa no século XX.

Hoje venho falar-vos do “Grupo dos Cinco”. Um conjunto de cinco compositores russos que marcaram a história da música russa no século XIX.

A Europa do século XIX é vista como a era da industrialização, das revoluções e da cultura de transversalidade a que chamamos multiculturalismo.

Pedro “O Grande”, numa perspetiva de modernizar a Rússia no século XVII, implementa o pensamento da Europa Ocidental como modelo de progresso e importa para a Rússia os arquétipos da indústria, ciência e cultura que se praticam na Europa ocidental. Este paradigma setecentista, sob o reinado de Catarina “A Grande”,consolida o pensamento barroco do ocidente na europa oriental, onde a vida é exposta como sendo um palco. Porém, no início do século XIX, Esta culturalidade é questionada por alguns artistas russos que rejeitam o domínio cultural oriundo da Itália e da Alemanha. Tanto no universo da literatura como no da música, estes defensores da cultura autóctone dão início a uma nova corrente de manifestação artística russa e tornam-se os arautos do retorno daquela que é vista como a autêntica cultura russa.

No âmbito da música, há dois compositores que se tornaram determinantes nesta mudança. Falo de Mikhail Glinka (1804-1857) e Aleksandr Dargomyzhsky (1813-1869) que, sobretudo com a composição de duas obras musicais – respetivamente, “Uma vida pelo czar” e “O Convidado de Pedra” – seduzem pelo feroz movimento nacionalista russo contra o regime que, durante séculos, submergiu a cultura russa. Uma renovação patriótica que se afirma como a necessária preservação da memória cultural russa.

Nas composições, Glinka, possui um enorme poder de comunicação no uso de melodias e ritmos populares russos.

Dargomyzhsky, o fiel transmissor do pensamento de Glinka, grande admirador da obra literária de Aleksandr Pushkin, um nacionalista no campo da literatura, promove, divulga e acolhe em sua casa a nova geração de compositores russos que darão início a esta renovação de pensamento musical. Mily Balakirev (1837-1910) é o primeiro dos adeptos desta missão revolucionária nacionalista. Balakirev cria a primeira escola livre nacionalista, num contexto de centros de formação e estudo musical completamente dominada por compositores do ocidente. A seguir junta-se Cesar Cui (1835-1918) que, não se destacando como grande compositor, tem, contudo, um talento e erudição assazes que lhe permitem promover, através dos meios de comunicação, esta defesa de corrente nacionalista. Seguem-se Modest Mussorgsky (1839-1881), Rimsky-Korsakov (1844-1908) e, em 1862, Alexandr Borodin (1833-1887). Está reunido o destacado Grupo dos Cinco: Balakirev, Cui, Mussorgsky, Rimssys-Korsakov e Borodin, que, com os seus exemplos,contagiam/influenciam um conjunto de outros nomes de compositores europeus defensores, também eles adeptos de um nacionalismo próprio, como é o exemplo de Edvard Grieg (1843-1907) na Noruega, de Jean Sibelius (1865-1957) na Finlândia, de Bedrich Smetana (1824-1884) na atual República Checa, de Manuel de Falla (1876-1946 na Espanha, entre muitos outros…

Na atualidade, o grande pensador e filósofo José Gil defende a necessidade urgente de reformularmos a forma de preservação da memória cultural, numa era em que a globalização da comunicação fomenta a mistura ou a confusão de culturas.

Será pertinente questionarmo-nos sobre a perenidade das tradições e suas preservações, raiz da identidade de um povo, quando, com a exclusão do ministério da cultura, o poder político menoriza a necessidade de defesa da cultura nacional.

Ludovina Fernandes

Jornal A Guarda

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