Exportações para os EUA caem 20% em setembro no 2º mês do tarifaço

As exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 2,58 bilhões em setembro, uma queda de 20,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgados nesta segunda (6).
O resultado reflete o segundo mês de impacto direto da sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros, medida que tem ampliado o déficit comercial entre os dois países. O Brasil registrou um déficit de US$ 1,77 bilhão com os Estados Unidos no mês passado, importando mais do que exportando. As importações somaram US$ 4,35 bilhões em setembro, um aumento de 14,3% sobre o mesmo mês de 2024.
Segundo o MDIC, a queda nas exportações foi generalizada e atingiu tanto os produtos afetados pela tarifa quanto aqueles que ficaram de fora da medida. Em agosto, primeiro mês do tarifaço, as vendas externas ao mercado americano já haviam recuado 18,5%.
Entre os itens mais afetados pela sobretaxa de 50% estão a carne bovina, com redução de 58% nas exportações, açúcar e melaço (-77%), armas e munições (-92%), tabaco (-95,7%) e café torrado (-29%). Mesmo produtos que escaparam da sobretaxa, como ferro-gusa (-41%), celulose (-27,3%) e minério de ferro (que não teve embarques em setembro), também registraram queda.
No acumulado de janeiro a setembro, as exportações brasileiras aos Estados Unidos totalizaram US$ 29,21 bilhões, recuo de 0,6% em relação a 2024. Já as importações cresceram 11,8%, somando US$ 34,32 bilhões, o que resultou em um déficit de US$ 5,1 bilhões para o Brasil no período.
Apesar da retração nas vendas ao mercado norte-americano, o país registrou em setembro o maior volume de exportações da série histórica para o mês, com US$ 30,53 bilhões, alta de 7,2% frente ao mesmo mês do ano anterior. As importações, porém, também cresceram fortemente, 17,7%, totalizando US$ 27,54 bilhões — o maior valor já registrado.
Assim, o saldo da balança comercial brasileira ficou positivo em US$ 2,99 bilhões, queda de 41,1% em comparação com setembro de 2024.
Diante do cenário, a Secretaria de Comércio Exterior revisou as projeções para a balança comercial de 2025, prevendo agora um superávit de US$ 60,9 bilhões, ante estimativa anterior de US$ 50,4 bilhões. Caso o número se confirme, representará uma redução de 17,9% em relação ao superávit de US$ 74,2 bilhões de 2024. A previsão para as exportações subiu levemente para US$ 344,9 bilhões, enquanto as importações foram ajustadas para baixo, para US$ 284 bilhões.
Em meio ao tarifaço, Trump ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda (6) e ouviu do petista o pedido para a retirada das sobretaxas.
“[Lula] solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”, afirmou o Palácio do Planalto em um comunicado pouco depois.
O governo norte-americano, segundo o comunicado, designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para prosseguir nas negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (que também é ministro do MDIC), o chanceler Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o ministro Fernando Haddad (Fazenda). Ainda segundo a nota, os líderes “combinaram um novo encontro pessoalmente em breve”.
A conversa entre Lula e Trump, que não constava na agenda oficial do presidente brasileiro e vinha sendo articulada desde julho, quando a Casa Branca anunciou o tarifaço. Desde então, o Planalto tentava abrir um canal de negociação com Washington, sem sucesso até aquele momento.
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