Quanto a maior economia do Brasil sofrerá com tarifaço de Trump

São Paulo é o estado que mais tem a perder, em valores absolutos, com a sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump às importações brasileiras e que deverá entrar em vigor a partir de 1º de agosto. A maior economia do país tem nos EUA parte relevante de sua balança comercial, que deverá pender para uma redução na saída caso o tarifaço se concretize.
De acordo com um levantamento do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (Nemea-UFMG), é esperada uma queda de R$ 4,4 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do estado paulista, recuando 0,13% em 2025. O impacto para outras unidades da federação seria inferior a R$ 2 bilhões.
“Estes valores sugerem que as maiores economias do país seriam as mais afetadas em valores absolutos pelas medidas tarifárias, refletindo o peso dos setores mais afetados pelas medidas tarifárias e sua integração nas cadeias produtivas nacionais e internacionais”, aponta o documento do Nemea-UFMG.
Esse impacto está no tamanho do mercado norte-americano para São Paulo. No primeiro semestre deste ano, o estado exportou um total de US$ 6,4 bilhões para os EUA, o que representou 31,9% de tudo o que o Brasil enviou para o país de Donald Trump — o segundo colocado na lista é o Rio de Janeiro, com a metade do que o setor produtivo paulista exportou (US$ 3,2 bilhões).
O comércio entre São Paulo e Estados Unidos vem crescendo. De US$ 7 bilhões em 2020, saltou para US$ 13,3 bilhões, quase dobrando em cinco anos. Antes da taxação — incluindo a anterior, de 10% —, havia a expectativa de um novo recorde nesse fluxo.
Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial de São Paulo: entre janeiro e junho de 2025, esse fluxo respondeu por 19,4% do que o estado exportou. Proporcionalmente, o comércio paulista com os EUA só não é mais representativo do que o do Ceará (51,9%), do Espírito Santo (33,9%) e de Sergipe (31,4%).
Na lista de produtos mais afetados estão as aeronaves produzidas pela Embraer, que tem nas empresas norte-americanas seus principais clientes — cerca de 60% do faturamento da fabricante vem dos EUA. Só neste ano, US$ 872 milhões em aviões já foram enviados para os Estados Unidos. Além das aeronaves, os sucos de frutas e equipamentos de engenharia civil estão entre os mais exportados.
Setor produtivo de São Paulo pede negociações para mitigar efeitos do tarifaço de TrumpO potencial risco para o setor produtivo paulista desencadeou reações das principais entidades representativas do estado. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) falou sobre a importância das relações entre Brasil e Estados Unidos e pediu que “a diplomacia e as negociações equilibradas prevaleçam, a despeito de ideologias e preferências pessoais, e que o bom senso volte a nortear a relação entre essas duas grandes nações soberanas.”
Por sua vez, a Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) destacou a importância do agronegócio para a balança comercial brasileira e as possíveis perdas para o setor devido ao aumento da tarifa norte-americana. Além disso, pediu agilidade nas negociações.
“O Brasil precisa adotar uma postura mais ativa nas mesas de negociação, fortalecendo canais de diálogo permanentes com os EUA, assim como os demais parceiros, e utilizando os acordos multilaterais e fóruns internacionais como ferramentas de pressão e defesa”, informou a entidade em nota.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela taxação extra de Trump, direcionouo discurso nos dias seguintes para sair em defesa de São Paulo e pedir uma saída negociada para reduzir os futuros impactos para a economia do estado — outros governadores presidenciáveis também recuaram após criticarem o governo Lula.
“Neste momento, eu tenho que olhar para o estado de São Paulo. Eu sou governador do estado, existem interesses que precisam ser preservados, interesses das nossas empresas e dos nossos produtores. E é isso que a gente tem que botar em primeiro lugar. Estou falando de empregos, estou falando de paz de família, então nesse momento é a defesa que eu estou fazendo”, disse no último sábado (12).
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