Chega disponível para viabilizar Orçamento sem ziguezagues do Governo

O presidente do Chega, André Ventura (E), conversa com o deputado do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Soares (D), durante os trabalhos da primeira sessão plenária da XVII Legislatura, na Assembleia da República, em Lisboa, 03 de junho de 2025. Os 230 deputados eleitos nas legislativas de 18 de maio iniciam funções na primeira sessão plenária da XVII legislatura. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
O Governo começou a receber os partidos para discutir a proposta de Orçamento do Estado para 2026 (OE2026). A primeira reunião que serviu para apresentar as principais opções do Executivo para o orçamento, e abordar outros temas, foi com o Chega, que votou contra a proposta do OE no ano passado e agora chama a si o estatuto de segundo maior partido da oposição para reclamar o lugar de parceiro preferencial nas negociações com o Executivo. O PS, por sua vez, alerta para incompatibilidades caso o Governo se aproxime demasiado do partido de Ventura. Mesmo com margem mínima, Montenegro não espera um drama orçamental e já deixou avisos à oposição.
“Estamos atentos e queremos colaborar. Esperemos que o Governo perceba, ao contrário do ano passado, que há um parceiro preferencial. Esse parceiro preferencial foi decidido pelos portugueses a 18 de maio”, destacou a vice-presidente da bancada do Chega após a reunião com o Governo para discutir o OE2026, o conflito no Médio Oriente, a lei da nacionalidade e dos estrangeiros e a criação de novas freguesias. Rita Matias confirma que há “condições favoráveis” para aprovar Orçamento, tal como tinha já sinalizado Ventura, mas quer ser o “parceiro preferencial” do Governo.
Do lado do ministro dos Assuntos Parlamentares veio a resposta: o Governo vai “negociar com todos os grupos parlamentares”, sem qualquer “lógica de preferência” ou “parceiros preferenciais” nas negociações para o OE. Sobre a maior facilidade nas negociações este ano, face a um parlamento com uma maioria de direita, Carlos Abreu Amorim considerou que “não há nem maior facilidade, nem maior dificuldade”, admitindo apenas que certas matérias poderão ter de ser negociadas, dando o exemplo específico da lei dos estrangeiros.
Nos encontros que vão decorrer a pouco mais de um mês da data-limite para a entrega do documento, vários ministros marcarão presença nas audiências, que o Governo já fez questão de dizer que não são ainda negociações com os grupos parlamentares, mas sim uma oportunidade para apresentar as principais opções do Executivo para o orçamento.
Antes do arranque das discussões para o OE, o ministro dos Assuntos Parlamentares disse esperar que as negociações do OE sejam mais fáceis do que as do ano passado, tendo posteriormente o primeiro-ministro alertado os partidos que recusa negociar o OE2026 com “ultimatos ou linhas vermelhas” (ver texto ao lado). O presidente do Chega, André Ventura, também se pronunciou e sinalizou que este ano existem “condições mais favoráveis” para chegar a consensos no âmbito do OE. Mas deixou o aviso: dependerá da atitude do Governo.
Após a primeira reunião com o Executivo, Rita Matias enfatizou que o partido garante “portas abertas ao diálogo” com o Governo, mas quer que o Executivo de Montenegro “não ande aos ziguezagues”, exigindo redução da carga fiscal e aumento permanente das pensões, duas das cinco condições colocadas ao Governo para aceitar discutir o OE2026 (ver texto ao lado). E exige ainda reuniões públicas, numa alusão às negociações para o OE2025 com o então líder do PS, Pedro Nuno Santos, com a vice-presidente do Chega a pedir para que não “se repitam negociações à porta fechada, nem conversas que depois são negadas publicamente”.
Governo preocupado com PRR, mas afasta défice
Segundo Rita Matias, no encontro, o “Governo sinalizou alguma preocupação, nomeadamente ao nível da execução do PRR, por depender de transferências e de empréstimos do próprio Estado, ao nível de 1% do PIB”, dando ainda conta de que prevê terminar este ano com um superavit. No que toca ao crescimento da economia a taxa deverá rondar os 2%, de acordo com o Livre, o uma ligeira revisão em baixa face aos 2,4% para este ano e 2,6% no próximo previsto pela AD no programa eleitoral.
Os números foram avançados pelo coporta-voz do partido, Rui Tavares, após a reunião com o Governo, confirmando a informação do Chega, de que as Finanças continuam a prever um ligeiro excedente orçamental de 0,1%.
“Este era um Governo que dizia que era fácil crescer acima dos 3%, aparentemente não é fácil crescer acima dos 3%”, criticou, afirmando ainda que o Governo prevê também um excedente orçamental que considerou escasso e classificou como “um saldo nulo”.
Segundo Rui Tavares, a “taxa de inflação vai estar pouco acima dos 2% com habitação e nos 1,9% sem habitação, nos 1,9%.” O Livre dá ainda conta de que o Governo prevê uma dívida pública abaixo dos 90% do PIB no próximo ano e desafiou o executivo a dialogar sobre o orçamento ao invés de manter um “namoro preferencial” com o Chega.
IL insatisfeita e Livre lamenta “namoro” com o Chega Questionada sobre o OE, Mariana Leitão afirmou que o OE, “do ponto de vista do Governo, vai seguir a mesma linha do ano passado” e que em relação aos parceiros, o “interesse primordial” do partido “é sempre o país, o bem-estar do país”, sublinhando que os liberais não vão abdicar das suas propostas. “Vamos submetê-las”, disse na primeira ronda de reuniões com o Executivo, que se prolongam até 10 de setembro, dia em que serão ouvidos os representantes do PCP. Nesta sexta-feira, 5 de setembro, é a vez do PS.
À saída do encontro, Rui Tavares criticou, por sua vez, a falta de diálogo em opções estratégicas para o país e lamentou a parceria de Montenegro com André Ventura: “este namoro preferencial não é bom para o país, achamos que o país precisa de ter verdadeira pluralidade no Parlamento”.
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