Fisioterapia – um pilar da saúde de todos nós

É muito provável que qualquer um de nós, nalgum momento das nossas vidas, tenha já contactado com a fisioterapia de forma direta ou indireta. O seu âmbito de atuação é tão vasto que se tornou inevitavelmente presente no dia a dia da saúde de todos nós.
Este ano, o Dia Mundial da Fisioterapia pretende sensibilizar para os temas do envelhecimento saudável e da prevenção de quedas. Estas são duas vertentes em que o contributo da fisioterapia se faz sentir amplamente: na promoção da autonomia, no envelhecimento ativo e na redução dos fatores de risco que tendem a estar na origem das quedas, como sejam a perda de equilíbrio, a redução da força muscular e a fragilidade em geral. Só para se ter uma ideia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as quedas são a principal causa de morte acidental no mundo, sendo que, todos os anos, cerca de 37,3 milhões de quedas são motivo de intervenção médica. De acordo com a mesma fonte, as quedas fatais afetam sobretudo pessoas acima dos 60 anos de idade, sendo também uma das principais causas de perda de independência e internamento nesta faixa etária.
Em Portugal, o Dia Mundial da Fisioterapia é assinalado pela Ordem dos Fisioterapeutas, juntando-se assim à iniciativa da World Physiotherapy, organismo internacional que integra desde 2023.

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Permanecer ativo, manter relações sociais proveitosas e continuar a fazer aquilo de que mais se gosta, independentemente da idade, são algumas das dimensões do envelhecimento saudável. Neste Dia Mundial da Fisioterapia, a Ordem dos Fisioterapeutas sublinha a importância da prevenção de quedas através da prática de exercício físico prescrito por fisioterapeutas, com benefícios comprovados na melhoria da força, do equilíbrio, da coordenação e da mobilidade.
Como refere a Ordem, “o fisioterapeuta é um profissional de saúde fundamental para promover a saúde, prevenir a doença e intervir em todas as fases da vida”. Isto porque “o seu papel vai muito além da reabilitação após lesão ou cirurgia, inclui também a educação para a saúde, a prescrição de exercício físico seguro e adaptado, e a promoção da autonomia”. “Num país que envelhece rapidamente, os fisioterapeutas são essenciais na prevenção de quedas, na gestão da dor crónica e na manutenção da independência funcional, contribuindo para uma população mais saudável, ativa e integrada”, sublinha aquele organismo.
Fisioterapeutas mais perto dos utentesPor ser uma profissão centrada na autonomia da pessoa e presente em todas as fases da vida, desde o nascimento à idade avançada, com um foco claro na prevenção e não apenas na recuperação e tratamento, a Ordem dos Fisioterapeutas defende a plena integração da Fisioterapia numa lógica de cuidados. Ou seja, considera que os fisioterapeutas devem estar perto da população, onde e quando são mais necessários, nomeadamente, nos cuidados de saúde primários. Nas suas palavras, “em Portugal, os utentes reconhecem cada vez mais o valor da fisioterapia, sobretudo pela experiência direta de melhoria da sua qualidade de vida. Porém, no sistema de saúde, o acesso continua desigual e limitado, o que prejudica essa perceção global”. Com efeito, “apenas cerca de 1500 fisioterapeutas trabalham no Serviço Nacional de Saúde [SNS], num universo de mais de 13 mil profissionais inscritos, número bastante abaixo da média europeia”, refere o organismo. Em contrapartida, “no plano internacional, a fisioterapia é amplamente reconhecida como essencial em cuidados de saúde primários, hospitais e comunidades, e com integração plena no sistema”, afirma, considerando que “Portugal está a dar passos importantes, mas ainda tem um longo caminho pela frente” para atingir esse nível de resposta.
Exemplos de sucessoUm exemplo do impacto da integração da fisioterapia no SNS e nos cuidados de saúde primários é o SPLIT, um projeto inovador que tem como objetivo contribuir para melhorar a resposta às pessoas que chegam aos centros de saúde com lombalgia (dor na região lombar). Em concreto, o SPLIT é um modelo que permite a referenciação direta destes utentes para a fisioterapia, garantindo uma intervenção precoce, e os resultados são bastante promissores no que diz respeito à relação entre o custo e a eficácia dos cuidados prestados, evitando atrasos que podem comprometer a recuperação. De facto, numa amostra de cerca de 500 utentes inseridos no programa, constatou-se que, seis meses após a consulta inicial, a probabilidade de estes apresentarem lombalgia persistente e incapacitante diminuiu em cerca de 80%. Por outro lado, o programa permitiu também reduzir em cerca de 30% a prescrição de meios complementares de diagnóstico e medicação, traduzindo-se em ganhos não apenas para os utentes, mas também para a eficiência do sistema de saúde
O SPLIT foi desenvolvido por um grupo de investigadores e clínicos da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, Nova Medical School/ Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, através do, e a sua implementação tem estado focada na expansão do programa a outras unidades de saúde, em Portugal, que já tenham fisioterapeutas integrados.
São muitas as dimensões da intervenção dos fisioterapeutas, destacando-se:
- Exercício personalizado: prescrição de exercícios adaptados a cada pessoa e condição de saúde, para melhorar e maximizar a função física, prestando atenção à força muscular, ao fortalecimento dos ossos e treino do equilíbrio;
- Preparação e recuperação eficaz: intervenção antes e após cirurgias, quedas, lesões ou doenças;
- Gestão da dor: estratégias para otimizar a mobilidade, reduzir e controlar a dor, promovendo maior qualidade de vida;
- Facilitação do controle motor e adaptação ao esforço após doenças neurológicas e cardiovasculares: intervenção essencial e precoce após AVC ou enfarte ou em condições como Parkinson;
- Apoio para lidar com condições crónicas como artrite ou diabetes, entre outras;
Em suma, os fisioterapeutas são os profissionais de saúde especializados no movimento e na funcionalidade, ajudando cada pessoa a viver com mais autonomia, qualidade de vida e saúde.
Apesar dos benefícios reconhecidos da fisioterapia, em Portugal, o grande obstáculo continua a ser o acesso. Como tem sublinhado o Bastonário António Lopes,” demasiados utentes continuam a depender de listas de espera longas ou do setor privado, tornando a fisioterapia, em muitos casos, num ‘luxo’ e não um direito”. Esta carência traduz-se em listas de espera prolongadas, atrasos na intervenção e maior recurso ao setor privado, muitas vezes já em fases tardias, com menor eficácia clínica e maior custo para o sistema.”
Como salienta ainda, “a Ordem tem defendido a criação de unidades de fisioterapia no SNS, à semelhança do que já acontece com psicólogos ou nutricionistas, garantindo cuidados atempados e maior custo-eficácia”. “A consolidação da autonomia de gestão dos fisioterapeutas no SNS é, por isso, um passo essencial para garantir uma resposta mais eficiente e centrada no cidadão”, sublinha.
Outro desafio prende-se com a “necessidade de reforçar a literacia em saúde e o reconhecimento do papel da fisioterapia na prevenção e promoção da saúde, numa altura em que o envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas exigem novas respostas”. Em síntese, a Ordem reforça que “valorizar a fisioterapia significa reduzir incapacidade, melhorar a qualidade de vida e contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde”.

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A Ordem dos Fisioterapeutas foi criada em 2019, pela Lei n.º 122/2019 de 30 de setembro, o que constituiu um passo decisivo para a autonomia e valorização da profissão em Portugal. Desde então, “o título profissional atribuído pela Ordem passou a ser requisito obrigatório para o exercício da profissão, garantindo maior qualidade e segurança para os utentes”.
Essa autonomia foi reforçada com as alterações ao Estatuto, aprovadas em dezembro de 2023, e com a admissão da Ordem no Conselho Nacional das Ordens Profissionais, colocando a fisioterapia no mesmo patamar de outras profissões reguladas”.
Desde instituída sua criação, a Ordem dos Fisioterapeutas tem vindo a dar “voz institucional à profissão, intervindo junto das instâncias políticas e do sistema de saúde”, com vista a assegurar “cuidados atempados e de qualidade, aproveitando plenamente as competências dos fisioterapeutas nos cuidados primários e hospitalares, com impacto direto na saúde dos cidadãos e na eficiência do SNS”.
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