Cientistas descobrem novo coronavírus com potencial para infectar humanos: o que saber

Uma nova pesquisa divulgada neste mês mostra o perigo sempre presente representado pelos coronavírus, a família de vírus que deu origem à pandemia de covid-19. Cientistas na China teriam encontrado um novo coronavírus em morcegos que pode ser capaz de se espalhar e infectar humanos.

Pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan lideraram o estudo, publicado na semana passada no periódico Cell . Em experimentos de laboratório, o vírus pareceu possuir uma adaptação-chave que lhe permite infectar uma ampla gama de mamíferos, incluindo humanos. Outros fatores estão presentes que tornam o vírus menos adequado para humanos por enquanto, mas os cientistas dizem que sua descoberta destaca a importância de estudar esses tipos de ameaças potenciais.

Coronavírus são um amplo grupo de vírus que infectam mamíferos e pássaros, sete dos quais são conhecidos por infectar humanos. Quatro desses vírus geralmente causam um resfriado leve; um causou uma epidemia importante, mas de curta duração, no início dos anos 2000 (o vírus SARS original); outro causa MERS, uma doença zoonótica perigosa, mas limitada, que normalmente se espalha de camelos para humanos; e SARS-CoV-2 — o coronavírus recentemente descoberto que causou a pior pandemia vista em um século, matando mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo desde que apareceu no final de 2019. Embora a covid-19 seja substancialmente menos mortal agora, graças em grande parte às vacinas, ela ainda mata rotineiramente centenas de americanos semanalmente.

Mesmo antes da chegada da covid-19, os cientistas há muito se preocupam com o risco de os coronavírus desencadearem o próximo grande surto, dada a sua disseminação pelo reino animal. Em 2006, pesquisadores em Hong Kong identificaram um coronavírus em morcegos pipistrelle que ficou conhecido como HKU5-CoV. A descoberta foi valiosa, mesmo que o vírus em si não parecesse possuir a maquinaria necessária para infectar humanos facilmente. Mas os cientistas de Wuhan dizem que agora descobriram uma linhagem distinta de HKU5-CoV mais capaz de saltar para humanos, que eles apelidaram de HKU5-CoV-2.

No laboratório, os pesquisadores encontraram evidências de que o HKU5-CoV-2 poderia potencialmente infectar uma ampla gama de mamíferos. Ele faz isso interagindo com um receptor de proteína encontrado em muitos tipos de células, chamado ACE2. Para aqueles que acompanharam a ciência da era da pandemia, o ACE2 é o mesmo receptor que o SARS-CoV-2 hackeia para infectar nossas células.

Os mamíferos têm versões ligeiramente diferentes de ACE2 entre si, e não há garantia de que um coronavírus que infecta morcegos possa se ligar à versão humana de ACE2. Mas o trabalho da equipe descobriu que as cepas de HKU5-CoV-2 poderiam usar "eficientemente" ACE2 humano (e outras versões mamíferas de ACE2) para entrar nas células. O HKU5-CoV-2 está mais intimamente relacionado ao vírus MERS do que o SARS-CoV-2 e os pesquisadores também encontraram evidências de que anticorpos específicos para SARS-CoV-2 podem oferecer pouca proteção contra HKU5-CoV-2.

Essas descobertas, no entanto, não significam que o HKU5-CoV-2 está destinado a se tornar o próximo covid. É importante ressaltar que nenhum caso humano de HKU5-CoV-2 foi relatado até o momento. E mesmo que um vírus possa teoricamente se espalhar de um tipo de animal para humanos, isso não garante que ele será capaz de se espalhar entre pessoas (na grande maioria das vezes, não é). Talvez significativamente, os pesquisadores identificaram outros aspectos do vírus recém-descoberto que provavelmente o impedem de infectar pessoas facilmente — um ponto-chave que eles destacaram.

“Devido a esses fatores subótimos para a adaptação humana, o risco de surgimento do BtHKU5-CoV-2 em populações humanas não deve ser exagerado”, escreveram.

O que essa pesquisa mostra, no entanto, é que nossa luta contra doenças infecciosas emergentes existe em perpetuidade. O HKU5-CoV-2 pode nunca saltar para os humanos, mas outros como ele eventualmente podem. Seja um coronavírus, gripe aviária ou algum outro germe desconhecido, o cenário para a próxima pandemia estará pronto. Portanto, rastrear e aprender mais sobre essas ameaças o mais cedo possível será essencial para interromper ou pelo menos atenuar os danos que elas podem causar.