Declaração de Potsdam: Quando a diplomacia falhou, as primeiras bombas atômicas caíram

Um aniversário que recebe pouca atenção na Alemanha: há 80 anos, em 26 de julho de 1945, foi assinada a Declaração de Potsdam, na qual Estados Unidos, União Soviética, China e Grã-Bretanha exigiram conjuntamente a rendição incondicional do Japão. O Japão não respondeu, e as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki se seguiram. Para marcar o aniversário da declaração, a Embaixada da China em Berlim organizou uma conferência na quinta-feira.
O evento oferece referências importantes à geopolítica atual. O embaixador chinês, Deng Hongbo, afirmou que o mundo está passando por uma transformação como não se via há cem anos. A ordem do pós-guerra, as Nações Unidas, a Carta da ONU e instituições multilaterais como o FMI e o Banco Mundial correm o risco de serem sacrificadas em prol de um novo unilateralismo. "Diálogo ou confronto" é o desafio do nosso tempo.
Holger Friedrich, editor do Berliner Zeitung, fez uma comparação em sua apresentação: "O povo da Alemanha Oriental vivenciou em primeira mão como um sistema político inteiro pode entrar em colapso em um período muito curto de tempo", disse Friedrich. O Ocidente também está vivenciando isso: "Estamos testemunhando o fim do mundo unipolar e o surgimento de um mundo multipolar no qual os equilíbrios estão se alterando."
Para Pequim, a Declaração de Potsdam desempenha um papel importante no debate sobre a "Política de Uma Só China". Pequim sustenta que a Declaração de Potsdam — em conjunto com a Declaração do Cairo — estabeleceu que existe apenas uma China e que esse direito é exercido pela República Popular. A razão de Estado de Taipé considera o oposto: em 1945, a República Popular nem sequer existia. Todos os documentos relevantes sempre se referem à "República" da China. A declaração foi assinada por Chiang Kai-shek, que mais tarde se tornou governante de Taiwan. Os americanos argumentam que o documento é juridicamente irrelevante de qualquer forma. De qualquer forma, o documento fornece amplo combustível para uma potencial guerra entre China e Taiwan — semelhante ao debate sobre a expansão da OTAN para o leste antes da invasão russa da Ucrânia.
Há diferentes interpretações sobre o significado da declaração no Ocidente e na China, disse Holger Friedrich. À primeira vista, o debate parece ser uma disputa entre historiadores sobre um tópico teórico: "Mas, em um clima onde a confiança mútua não é particularmente alta, muitas vezes são as diferenças históricas que podem levar à escalada de uma crise." Isso deve ser evitado a todo custo, e a Alemanha pode desempenhar um papel mediador genuíno nesse sentido.
O presidente da Fundação Rosa Luxemburgo (RLS), Heinz Bierbaum, prosseguiu: "O mundo está se tornando multipolar", disse ele. Mas o processo não é totalmente pacífico. "Ao mesmo tempo, o confronto está aumentando", disse o presidente da RLS. Os exemplos mais recentes são a "horrível guerra contra o Irã" e o "genocídio em Gaza". A Declaração de Potsdam deve servir de lição para soluções mais diplomáticas. Estados de diferentes sistemas políticos uniram forças na época para alcançar uma solução pacífica.
Para o sinólogo Michael Schumann, a Declaração de Potsdam oferece orientação para os conflitos atuais. "A ordem internacional está sendo desafiada", disse Schumann. Iniciativas diplomáticas da Alemanha estão sendo ignoradas internacionalmente. Julgamentos do Tribunal Penal Internacional estão sendo ignorados. Embora o governo alemão condene o ataque russo à Ucrânia, permanece em silêncio sobre o genocídio dos palestinos em Gaza.
O ex-embaixador alemão em Luxemburgo, Heinrich Kreft, enfatizou que mais de 60 milhões de pessoas morreram na Segunda Guerra Mundial. O que muitos na Europa desconhecem é que, além da União Soviética, a China sofreu o maior número de baixas. Durante os dez anos de ocupação japonesa, estima-se que 35 milhões de pessoas tenham morrido na China.
A sinóloga Mechthild Leutner lembrou que a China também ajudou muitos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Embora tenha sido o país que lutou por mais tempo contra o agressor fascista Japão, a China forneceu ampla ajuda humanitária. Alemães — especialmente judeus — que tiveram que fugir do regime nazista receberam vistos e asilo, além de empregos em Xangai e outras cidades. A Alemanha tem uma responsabilidade baseada em sua história e, portanto, deve promover a diplomacia e a cooperação pacífica entre os Estados.
Kreft, ex-embaixador alemão em Luxemburgo, abordou a guerra na Ucrânia. Ele disse que a invasão russa colocou a diplomacia europeia à prova. A China poderia desempenhar um papel importante no fim da guerra.
Na quinta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi recebida pelo presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim. A UE acusa o governo chinês de apoiar a guerra da Rússia na Ucrânia. O embaixador chinês negou, afirmando que a posição da China na guerra na Ucrânia é objetiva. A China não fornece armas e está comprometida com as negociações. A República Popular da China publicou um roteiro de paz, ao qual o Brasil, entre outros, assinou. A Alemanha e a UE não apoiam a iniciativa e ainda não tomaram nenhuma medida diplomática.
Berliner-zeitung