Déficit histórico, carga de doenças crônicas e falta de transparência: relatório revela um panorama crítico do sistema de saúde dos professores

O sistema de saúde dos professores colombianos atravessa um período crítico. É o que revela o segundo boletim de monitoramento do Fundo Nacional de Benefícios Sociais dos Professores (FOMAG), apresentado nesta quarta-feira pelo think tank Así Vamos en Salud (Assim Vamos em Saúde). O boletim alerta para um déficit financeiro estrutural, problemas de transparência e uma crescente carga de doenças crônicas e oncológicas entre a população filiada.
O relatório indica que, em junho de 2025, a Fomag contava com mais de 826.000 membros: 488.770 contribuintes e 337.510 beneficiários. A população é predominantemente feminina (60%) e está na faixa etária de 45 a 65 anos, refletindo um grupo demográfico em envelhecimento com elevadas necessidades de cuidados.

As despesas do Sistema de Saúde dos Professores superaram em muito sua receita desde 2019. Foto: iStock
Essa composição impõe uma dupla carga ao sistema: crianças e adolescentes entre os beneficiários, que necessitam de serviços de saúde pediátrica e escolar, e idosos com necessidades crescentes de doenças crônicas e de alta complexidade.
Cinquenta por cento das afiliadas estão concentradas em sete departamentos — Bogotá, Antioquia, Valle del Cauca, Santander, Córdoba, Atlântico e Bolívar — o que representa desafios em termos de planejamento e capacidade instalada na rede de prestadores de serviços.
Câncer e doenças crônicas, a principal ameaça O boletim mostra uma piora na incidência de câncer entre professores. Oito tipos de câncer — incluindo colo do útero, colorretal, mama e próstata — apresentaram aumento em prevalência e mortalidade.
No câncer cervical, por exemplo, a taxa de mortalidade aumentou de 1,1 em 2020 para 3,5 em 2024, e a prevalência de 55,1 para 84,9. A mortalidade por câncer de mama dobrou no mesmo período, e o câncer de próstata triplicou o número de mortes registradas.
No geral, os cânceres se tornaram a principal causa de morte entre professores em 2024 (957 casos), superando as doenças cardiovasculares (845). O relatório também registra um crescimento sustentado na prevalência do HIV, que aumentou de 0,12 para 0,27 por 100.000 membros entre 2020 e 2024.
A oportunidade de atendimento é baixa: no câncer de colo do útero, o tempo médio entre a suspeita e o início do tratamento foi de 128 dias, classificado como baixa adesão.

O Así Vamos en Salud identificou um aumento nas doenças crônicas e oncológicas. Foto: iStock
Atualmente, a Fomag conta com 2.561 IPS (Serviços de Saúde Institucionalizados) e 6.032 unidades em todo o país, mas com uma concentração geográfica acentuada: 80% estão localizados em apenas 17 departamentos. Além disso, 76% dos prestadores são privados e apenas 23% são públicos.
O relatório alerta para falhas de transparência: foram identificados 13 locais não cadastrados no REPS, o que coloca em dúvida a confiabilidade da rede contratada.
A análise de Petições, Reclamações, Reclamações e Sugestões (PQRS) mostra uma queda significativa em 2025: 19.440 denúncias até junho, o equivalente a 235,2 reclamações por 10 mil associados, abaixo da média nacional.
No entanto, o Así Vamos en Salud alerta que a diminuição pode ser devido a melhorias no atendimento, bem como a possíveis subnotificações ou barreiras ao acesso a mecanismos de participação.
Oitenta por cento das reclamações se concentram em sete questões: negação ou atraso na entrega de medicamentos e tecnologias, atrasos em consultas médicas, falta de oportunidade para consultas especializadas e barreiras no acesso a tratamentos de alto custo, como quimioterapia, radioterapia e hemodiálise.

Aldo Cadena, vice-presidente da Fomag. Foto: Cortesia
Um dos problemas mais críticos é o desequilíbrio estrutural entre receita e despesa. Entre 2019 e 2025, a receita com saúde aumentou de US$ 1,49 trilhão para US$ 2,91 trilhões, enquanto as despesas aumentaram para US$ 3,47 trilhões.
Em 2024, o salto foi histórico: os gastos subiram para US$ 4,8 trilhões, em comparação com receitas de apenas US$ 2,6 trilhões, resultando em um déficit recorde de US$ 2,1 trilhões (184%). A maior parte desses gastos concentrou-se em contratos de serviços médicos (60%) e decisões e acordos judiciais (30%).
Até 2025, a verba inicial projeta um déficit de US$ 568 bilhões. No entanto, especialistas alertam que essa estimativa é otimista, pois o orçamento não incorpora ajustes pela inflação nem o aumento real dos custos médicos.
Além disso, persistem inconsistências nas informações financeiras: catálogos orçamentários, registros oficiais e demonstrações financeiras nem sempre coincidem, limitando a rastreabilidade e a responsabilização.
O Así Vamos en Salud conclui que a Fomag está enfrentando uma tempestade perfeita: uma população envelhecida e altamente exigente, crescimento sustentado de doenças de alto custo, uma rede fragmentada com problemas de acesso e um déficit estrutural que compromete a sustentabilidade financeira.
O think tank apelou urgentemente à Fomag e à Fiduprevisora para que garantam relatórios financeiros claros, rastreáveis e consistentes, fortaleçam os mecanismos de controlo de gastos e garantam um planeamento adequado dos recursos, a fim de proteger o direito à saúde de mais de 800.000 professores e das suas famílias em todo o país.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo