Opinião: Por uma cidade feliz

O “Relatório Mundial da Felicidade” e o “Índice de Qualidade de Vida” – dois dos “benchmarks” mais respeitados globalmente, produzidos pela Mercer — oferecem lições poderosas para os decisores políticos.
Casos as desejem aprender… E ambos apontam para uma mesma conclusão: as pessoas prosperam quando as cidades priorizam o bem-estar, a inclusão e a habitabilidade, juntamente com o crescimento económico.
Na corrida para se tornarem mais competitivas, inovadoras e atraentes, as cidades costumam-se concentrar sobretudo em projetos de infraestrutura, transformação digital ou crescimento económico. No entanto, as estratégias urbanas mais visionárias lembram-nos uma verdade fundamental: uma cidade só é bem-sucedida na medida em que consegue fazer as pessoas felizes e melhorar a sua qualidade de vida. O segredo está assim na felicidade!
A pouco mais de um mês das eleições autárquicas, em Portugal, pouco o nada tenho escutado sobre como construir uma cidade feliz.
Mas regressemos àqueles índices. O “Relatório Mundial da Felicidade”, com base em pesquisas sobre satisfação com a vida, destaca seis pilares críticos: rendimento, expectativa de vida saudável, apoios sociais, liberdade, confiança no governo e solidariedade. Por sua vez, o “Índice de Qualidade de Vida” compara cidades em termos de segurança, educação, saúde, habitação, ambiente e lazer.
Quando analisamos as cidades que consistentemente estão nos primeiros lugares (Helsínquia, Copenhaga, Zurique e Viena), surge um padrão claro: estas não são as cidades mais ricas per capita, mas sim aquelas que investem sabiamente em políticas centradas nas pessoas.
O acesso a cuidados de saúde de alta qualidade, espaços verdes e opções de mobilidade ativa (ciclismo, caminhada, transportes públicos) aumenta diretamente a felicidade e a qualidade de vida.
O apoio social é um dos indicadores mais fortes de felicidade. Parques, centros comunitários, bibliotecas e praças promovem a interação, o sentimento de pertença e a confiança. A insegurança habitacional prejudica o bem-estar. As cidades que promovem o acesso à habitação (em Viena há 60% dos residentes em apartamentos subsidiados ou com renda controlada) reduzem as desigualdades.
Os índices mostram ainda que uma câmara municipal que ouve, comunica abertamente e envolve os munícipes nas tomadas de decisões cria a sensação de justiça e liberdade de que as pessoas precisam para prosperar.
O acesso à natureza afeta diretamente a saúde e a satisfação com a vida. Mais parques verdes é sinónimo de mais atividade física e de mais sustentabilidade urbana. As cidades são redes de relações humanas, por isso importa incentivar o envolvimento cívico, o voluntariado, mais vida cultural como condições de pertença e inclusão no tecido social.
A felicidade e a qualidade de vida não são luxos são imperativos estratégicos. As cidades que priorizam o bem-estar atraem talentos, estimulam a inovação e retêm cidadãos que se sentem orgulhosos de a elas pertencerem.
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