Senhoras e senhores, Carlos Moedas

Ainda a poeira assentava no local da tragédia do Elevador da Glória e já o País começava a conhecer Carlos Moedas. Não o Carlos Moedas da propaganda nas centenas de mupis espalhados pela cidade, das revistas municipais com mais fotografias suas do que páginas ou das inúmeras entrevistas que tentavam disfarçar a inação e o abandono que os Lisboetas sentem todos os dias.
A tragédia do Elevador da Glória é, em si mesma, uma metáfora de Lisboa: uma cidade presa por arames, sem manutenção, degradada, sem rumo nem visão. Carlos Moedas fez uma gestão meticulosa dos projetos que estavam em andamento do anterior Presidente, Fernando Medina, de modo a que tivesse fitas para cortar ao longo dos 4 anos, cortando fitas mas, ao mesmo tempo, colocando projetos na gaveta durante 3 anos para agora assinar e lançar como se fossem da sua autoria. Para além disso, nada resta. Nada resta para quem vier a seguir. Nada. Uma cidade adiada.
Ser-se presidente de Câmara é exigente, sê-lo em Lisboa é um desafio que poucos estão preparados. Candidatou-se a Lisboa para criar palco para outros voos. Ganhou. E sentando-se na cadeira de sonho, olhou para ela e não para os papéis que estavam em cima da mesa. Olhou sempre para a beleza da propaganda e do poder.
Não estar preparado e tentar ir pelo caminho fácil da propaganda não é novo na política. O que não é desculpável é a mentira e, mais grave, a instrumentalização de uma pessoa que já não está cá para se defender, neste caso Jorge Coelho. Para quem tem memória, não é algo novo. Carlos Moedas, num debate na campanha de 2021 afirmou que morreram 26 pessoas nas ciclovias de Lisboa em 2019. Desmentido pelas entidades competentes, não recuou.
Nessa mesma entrevista, afirma que só há responsabilidade política se o político, cometer uma ação que lhe possa ser diretamente apontada. Ou seja, para Moedas, um presidente de Câmara não é responsável de nada. A internet tem memória e rapidamente surgiram as declarações de Carlos Moedas de 2021 a afirmar o contrário e a arrasar os políticos como Carlos Moedas de 2025. O Presidente da República tem uma visão diferente: “Quem está à frente de uma instituição pública está sujeito a um juízo político por aquilo que aconteça de menos bem nessa instituição, mesmo que sem culpa nenhuma, mesmo que sem intervenção nenhuma”; “Quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável.”
Carlos Moedas, face à tragédia que se abateu na cidade, liderou e coordenou as operações como dirigente máximo da proteção civil? Agendou reunião de Câmara extraordinária para que, logo no dia seguinte, deliberasse medidas de apoio às vítimas, informando os restantes vereadores da oposição sobre o que estava a acontecer? Criou algum mecanismo de contacto entre os familiares das vítimas e as várias autoridades envolvidas? Não, não, não. Quando se exigia elevação e ação, andou nas televisões a dizer que estava devastado. Imaginem num terramoto ou numa pandemia, como seria. Incapacidade, inação e propaganda.
Carlos Moedas, na sua última entrevista, afirma que “se apontarem alguma coisa, alguma decisão que eu tomei que levasse em sentido contrário (?) que a Carris tivesse a investir ou a fazer menos, se alguma coisa se provar, eu demito-me”. Ora segundo a SIC, a Carris investiu menos na manutenção dos elevadores/funiculares e o concurso público lançado em 2025 teve um valor muito mais baixo que os anteriores, apesar do aumento da inflação. Acham que Carlos Moedas vai cumprir o que prometeu? Claro que não. Senhoras e senhores, Carlos Moedas.
Em outubro, Lisboa terá a oportunidade de agarrar o futuro e deixar para trás a inação, a mentira e a propaganda.
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Visao