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Utilizar a IA como um copiloto de um avião

Utilizar a IA como um copiloto de um avião

A velocidade com que a inteligência artificial (IA) nos oferece respostas já não impressiona e começa, cada vez mais, a ser algo garantido. Mas, mais do que dar respostas rápidas, o verdadeiro impacto está na capacidade de nos elevar cognitivamente. A diferença entre dar um passo e dar vinte está precisamente aqui. Aquilo que antes demorava horas, hoje pode ser explorado em segundos. E isso altera, definitivamente, a forma como criamos software.

No meu dia-a-dia como engenheiro de dados, utilizo ferramentas de IA generativa em várias frentes, porque permite-me libertar tempo e energia cognitiva para raciocínios mais estratégicos, mais criativos, e com mais impacto. É como usar umas andas: não nos tornam maiores do que somos, mas dão-nos altura para ver mais longe e avançar mais depressa.

Gosto de pensar na IA como um copiloto num cockpit de avião. Um piloto não deixa de saber voar, mas voa melhor quando tem alguém ao lado a ler os instrumentos, antecipar problemas e a validar decisões. No desenvolvimento de software, é exatamente a mesma coisa: a responsabilidade e a decisão continuam a ser uma responsabilidade do humano, mas temos um assistente que nos empurra uns quantos quilómetros mais à frente no raciocínio – se soubermos dialogar com ele.

No entanto, como em praticamente tudo, a IA traz alguns riscos que não podemos ignorar. O primeiro é o das alucinações – estas ferramentas não comunicam sempre da mesma forma e podem chegar a inventar respostas. Se colocarmos esse “delírio estatístico” dentro de código de produção, o erro é real e às vezes subtil. Aqui, a regra é não confiar cegamente: temos de validar, criticar, e avaliar com o nosso pensamento próprio. O segundo risco é mais silencioso e perigoso: a preguiça mental. Quando deixamos que a IA faça tudo por nós, corremos o risco de perder o músculo cognitivo. Deixamos de saber escrever, de raciocinar, de ter aquela satisfação intelectual de criar algo de raiz e por nós próprios. O terceiro é a segurança e confidencialidade. Muitos esquecem-se de que ao fazer uma pergunta a um sistema externo, estão potencialmente a expor dados sensíveis da empresa. Se esse prompt contém código confidencial, especificações de produto ou contratos, isso pode estar a ser armazenado e reutilizado algures.

A verdade é que a criatividade humana continua a ser insubstituível. As boas ideias nascem, muitas vezes, por associação de algo que alguém nos disse há anos, de vivências, de contexto social – algo que é impossível para uma máquina reproduzir e reconhecer. Mas se a IA me oferecer vinte possíveis caminhos rápidos, eu consigo combinar, criticar, desafiar e ir mais longe. Não acredito, para já, que iremos entregar a geração de código à IA de forma cega. Vamos, sim, criar regras internas de quando esta pode gerar testes, quando pode sugerir documentação técnica ou quando pode apoiar na otimização do código. Mas haverá sempre uma sensibilidade humana crítica, criativa e ética. Tal como já temos boas práticas de revisão de código, validações automáticas ou testes de segurança, vamos ter orientações para o uso da IA nas equipas.

No fundo, a IA é uma alavanca cognitiva que nos faz subir um degrau e ver mais longe, mas não substitui o ato de pensar. Usada com consciência, dá-nos a vantagem de ver mais além, construindo sobre o que já foi descoberto e pensado. Esta visão abre um caminho a software de melhor qualidade, mais responsável e, acima de tudo, feito por humanos mais preparados para o que poderá surgir no futuro.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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