Uma noite mal dormida, outro dia (de bronze) para recordar

Paris foi há quase um ano, Paris ainda vive na cabeça de Fernando Pimenta. Vive no mau, vive no bom – é certo que a possibilidade de chegar a uma terceira medalha olímpica fugiu mas a forma como foi “amparado” no final por familiares, companheiros, adversários e meros adeptos da modalidade mostrou que o português ecnontra-se há muito no pódio mais alto da canoagem. Foi por isso também que as vitórias em K1 1.000 e K1 5.000 do último Campeonato da Europa, em junho, funcionaram como um bálsamo para esta segunda vida do limiano, que chegará aos Jogos Olímpicos de Los Angeles (participando ou não) com 39 anos.
“São medalhas muito especiais porque surgem após um momento menos bom, nos Jogos. Até porque este ano [de 2025] estive quase sem competir. 2024 foi muito desgastante, em termos físicos como emocionais, e cheguei mesmo a ponderar não voltar a competir, pelo menos ao mais alto nível. Estas duas semanas, em Ponte de Lima e agora na Rep. Checa, são a resposta àquilo que ainda tem de ser a minha carreira. Conquistar dois títulos europeus em casa [Ponte de Lima, em maratonas] foi muito especial, ainda mais voltar uma semana e meia depois e a ganhar mais dois títulos”, apontou após esses triunfos em Racice, um dos quais na prova onde tentou ganhar a terceira medalha olímpica em Paris, o K1 1.000 metros.
“Esta é a prova de que quanto mais relaxado e feliz estiver, melhor desempenho tenho. Alguns treinadores de outras equipas até comentaram que notaram em mim um sorriso diferente. Costumo ser bastante extrovertido mas desta vez notaram que estava ainda mais tranquilo do que o habitual”, contou. E era isso que Pimenta tentava agora prolongar para mais um Campeonato do Mundo na longa carreira, onde teria a oportunidade de lutar pela reconquista de um título que ganhara na última edição em 2023 batendo na decisão Ádam Varga e Jakob Thordsen e que conseguira três vezes na carreira (2018, 2021 e 2023).
As mãos que não mentem: Fernando Pimenta conquista mais uma medalha de ouro no K1 5.000 dos Europeus
“A minha forma atual está no modo feliz. Já tive momentos em que não estava tão bem emocionalmente mas o físico compensou. Agora estou bem em termos físicos, emocionais e psicológicos. Acho que isso para mim é o mais importante nesta fase da minha carreira. Mais do que ganhar medalhas ou ser campeão do mundo, é a sensação de terminar a regata e dizer ‘Soube-me bem, gostei de fazer esta prova’. Fui feliz em todas as pagaiadas. Acho que isso, nesta fase da carreira, é das coisas mais importantes que posso ter. É divertir-me, competir e depois os resultados de certeza que aparecem. Mas acrescento: estou roto. Já tenho os pulmões a arder…”, tinha comentado Fernando Pimenta, de 36 anos, em declarações à agência Lusa.
O apuramento, esse, foi quase uma final. Na segunda meia-final, Fernando Pimenta acabou com o segundo melhor tempo e respetiva qualificação para a corrida decisiva ficando atrás do campeão olímpico de 2020, o húngaro Balint Kopasz, mas à frente do campeão olímpico de 2024, o checo Josef Dostal. “Os três no pódio? Há uma grande probabilidade disso acontecer. Já não era a primeira vez, nem a segunda ou terceira. Trata-se de atletas bastante experientes neste tipo de provas… O único que não foi campeão olímpico fui eu mas são coisas do passado e agora o que interessa é continuar a fazer o percurso que tenho vindo a fazer de forma tranquila e proporcionar excelentes espetáculos às pessoas que estão a assistir. Vai ser mais um dia no escritório, bastante exigente, não só físico, mas também em termos psicológicos”, apontou o limiano.
Campeão Fernando Pimenta apurado para a final de K1 1.000 dos Mundiais de Milão
A noite não foi fácil, o dia começou cedo. Depois de ter sido obrigado a mudar de quarto de madrugada pelo barulho que havia num bar perto do quarto, o português conseguiu mais um objetivo esta manhã ao carimbar a presença na final do K1 500. Ao início da tarde, na decisão do K1 1.000, todo o esforço acabou por ser um peso extra mas que nem por isso impediu que o limiano alcançasse a 21.ª medalha em Mundiais: o campeão olímpico Balant Kopasz sagrou-se campeão mas Fernando Pimenta ainda garantiu o bronze.
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