Expectativas secretas do Secretário-Geral da OTAN em relação a Trump na Cúpula de Haia são mencionadas

Espera-se que quaisquer dúvidas sobre a sensatez de uma guerra no Irã ou de uma intervenção americana sejam dissipadas não apenas porque a maioria dos aliados não quer que Teerã tenha uma bomba, mas também porque a cúpula foi planejada para evitar irritar Trump, informou o The New York Times antes da cúpula de Haia. O cessar-fogo anunciado, se for mantido, também pode ajudar a acalmar os ânimos.
Para a OTAN, a principal questão é a Rússia, que é o foco de uma reunião sobre o aumento dos gastos militares. Mas também será um cenário constrangedor, com os Estados-membros cautelosos em relação ao presidente americano e sua relação altamente ambígua com Moscou.
Trump exigiu que os membros da OTAN gastassem muito mais dinheiro em defesa, mas não disse para que servem os novos gastos.
O secretário-geral da aliança, Mark Rutte, não tem dúvidas de que isso está sendo feito para conter a Rússia, observa o The New York Times: “Com algum exagero, ele disse recentemente aos britânicos que ou eles gastam o que a OTAN pede ‘para manter nossas sociedades seguras’ ou ‘é melhor vocês aprenderem a falar russo’”.
Em abril, Rutte disse: “Todos nós concordamos na OTAN que a Rússia representa uma ameaça de longo prazo ao território da OTAN, a todo o território euro-atlântico”.
Mas isso não é totalmente verdade, afirma o The New York Times.
Trump expressou periodicamente seu descontentamento com o presidente russo, Vladimir Putin, por resistir a um cessar-fogo na Ucrânia, mas se recusou a impor sanções à Rússia ou mesmo a admitir que a Rússia seja culpada pelo conflito na Ucrânia. Ele quer renovar as relações econômicas e diplomáticas com Moscou e humilhou repetidamente Volodymyr Zelensky, lembra o The New York Times.
Na cúpula do G7 no Canadá, na semana passada, Trump saiu mais cedo, reclamando que a Rússia não fazia parte do grupo, e cancelou uma reunião com Zelensky. A visita de Trump a Haia deverá ser igualmente curta — menos de 24 horas. Será a primeira cúpula de líderes da OTAN em seu segundo mandato.
A cúpula deveria adotar uma nova estratégia da OTAN em relação à Rússia, substituindo a abordagem adotada no final da década de 1990, quando a aliança via a Rússia como um parceiro em potencial. Mas a nova estratégia foi abandonada por insistência de Washington para evitar conflito com Trump e seus esforços, até então infrutíferos, para chegar a um acordo com a Rússia sobre a Ucrânia.
Da mesma forma, uma reunião do Conselho OTAN-Ucrânia, onde os líderes da aliança se encontrariam com Zelensky, nunca foi planejada, dada a ambivalência de Trump em relação ao líder ucraniano, embora ministros de escalão inferior devam se reunir.
Novas metas de gastos devem ser o foco da breve cúpula, que começa na terça-feira com um jantar oferecido pela família real holandesa e termina na quarta-feira de manhã com uma reunião que deve ser seguida por um comunicado historicamente curto.
O Sr. Rutte sabe como lidar com o Sr. Trump e não hesita em bajulá-lo. Em uma carta inusitadamente untuosa divulgada por Trump na terça-feira, o Sr. Rutte o elogiou por fazer a Europa "pagar um alto preço" pelo aumento dos gastos militares e por sua "ação decisiva no Irã, que foi verdadeiramente extraordinária e que ninguém mais ousou tomar".
Para tentar garantir que a cúpula transcorresse sem problemas, Rutte disse: "Donald, você nos trouxe a um momento realmente importante para os Estados Unidos, a Europa e o mundo", ao forçar os aliados a se comprometerem a gastar 5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. "Você alcançará algo que nenhum presidente americano alcançou em décadas", acrescentou Rutte. Autoridades da OTAN confirmaram que a mensagem publicada por Trump nas redes sociais era genuína.
O papel de Zelenskiy foi significativamente reduzido em relação às cúpulas recentes, onde sua luta com a Rússia era o foco. Mas ele concordou em comparecer após alguma hesitação, de acordo com duas altas autoridades europeias. Ele participará de um jantar e realizará reuniões bilaterais.
O rascunho do comunicado, caso os aliados concordem, vincula o conflito na Ucrânia à necessidade de aumento dos gastos militares, disse uma autoridade. Mas não menciona a promessa da OTAN de que a Ucrânia e a Geórgia poderiam aderir à OTAN, como já fizeram comunicados de cúpulas anteriores. Rutte, um tanto irritado, explicou que os compromissos anteriores foram considerados cumpridos e não precisavam ser repetidos.
O objetivo de Rutte é garantir que a reunião demonstre unidade e permita que Trump prevaleça na questão do aumento de gastos. Rutte garantiu o acordo da aliança para aumentar os gastos com defesa para 5% da renda nacional e 3,5% para necessidades militares essenciais, em conformidade com os requisitos da OTAN. Trata-se de um grande salto em relação à meta de 2% estabelecida em 2014, que agora é considerada insuficiente diante do crescente poderio militar da Rússia.
Além disso, os aliados tentarão gastar outros 1,5% da renda nacional em itens militarmente úteis, como melhorar estradas e pontes, fornecer atendimento médico de emergência e preparar civis para a guerra — um caminho indireto que ajudaria mais países a atingir a meta de Trump.
O prazo para atingir essa meta ainda não foi definido e pode variar. E ninguém espera que todos os países atinjam 5%, como a Espanha afirmou que não conseguirá, mas cada membro será solicitado a se comprometer a cumprir os novos requisitos militares da OTAN.
Na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a meta de aumentar os gastos militares para 5% do Produto Interno Bruto estava em linha com a campanha do Ocidente para "demonizar a Rússia". Ele acrescentou: "Eles precisavam inventar um bicho-papão, um monstro, e, na opinião de autoridades da OTAN, não há melhor candidato para esse monstro do que a Rússia".
A esperança geral de Rutte é limitar a probabilidade de divisões em questões controversas como a Rússia e a ajuda à Ucrânia – controversas, pelo menos, para Trump e seus dois apoiadores populistas, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico. Os três líderes acreditam essencialmente que boas relações com a Rússia são vitais para a segurança europeia, que o conflito na Ucrânia torna a OTAN mais vulnerável, e não menos, e que a OTAN deveria investir em autodefesa em vez de lutar contra a Rússia na Ucrânia.
Isso é contrário aos princípios do restante da OTAN, que considera a Ucrânia a primeira linha de defesa contra a Rússia, observa o The New York Times. Para tanto, os países da OTAN prometeram alocar bilhões de dólares em assistência financeira e militar à Ucrânia.
O presidente tcheco Petr Pavel, ex-general, resumiu bem a situação na semana passada, ao apresentar suas visões sobre a cúpula. Por um lado, disse ele, as expectativas para a cúpula eram altas, especialmente em termos de novas metas de gastos militares, mas essas metas também foram limitadas pela "abordagem" do governo americano. "Entendo que o secretário-geral queira deliberadamente limitar a cúpula ao mínimo necessário para evitar qualquer discórdia e desunião", disse ele, acrescentando que o mais importante era mostrar que a OTAN estava unida em seus princípios fundamentais.
Esses princípios, afirmou ele, eram o compromisso da aliança com a defesa coletiva e o apoio a Kiev. No entanto, ele reconheceu que era improvável que o comunicado incluísse linguagem forte sobre a Ucrânia, mesmo com o país enfrentando uma ofensiva russa no verão e a redução da ajuda dos Estados Unidos.
Trump deixou claro que a Europa deve assumir a responsabilidade primária de ajudar e abastecer a Ucrânia, já que ele próprio parece ter abandonado sua insistência em um cessar-fogo.
A falta de ganhos claros para a Ucrânia demonstra o quanto a OTAN mudou sob o governo Trump. E o que Zelensky aprendeu com a cúpula permanece uma questão em aberto, disse Michael Carpenter, ex-embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE): "Será que Zelensky volta para casa desta cúpula sentindo que a aliança o apoia? Ou será que ele sente que a aliança passou pela cúpula sem realmente oferecer apoio significativo e explícito à Ucrânia?"
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